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Rondônia, sexta, 03 de maio de 2024.

Exame

Um novo olhar para a indústria brasileira


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*Gustavo Werneck

O anúncio da nova política industrial brasileira, denominada Nova Indústria Brasil (NIB), feito pelo Governo Federal nesta semana, com previsão de destinar R$ 300 bilhões em investimentos e financiamentos para o setor até 2033, amplia o leque de oportunidades de desenvolvimento da economia do País e pode ser visto como o primeiro passo para a retomada da industrialização nacional.

De acordo com a proposta anunciada, a maior parte dos recursos virá do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), em conjunto com a Finep (Financiadora de Estudos e Projetos) e a Embrapii (Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial). Vejo esse anúncio de maneira positiva, principalmente pelo estabelecimento das missões que vão orientar as aplicações, especialmente àquelas relacionadas à alocação de recursos para inovação e transição energética, temas fundamentais para a indústria de transformação. A atividade produtiva brasileira vem perdendo relevância e competitividade nas últimas décadas. E não existe um país próspero sem uma indústria forte. Por isso, a nova política industrial é um acerto do governo em fortalecer um setor tão importante e que passa por muitos desafios.

Segundo a cartilha do programa, as missões terão metas e áreas prioritárias bem delineadas e com desafios já mapeados, o que permite maior previsão do que deve ser feito. Como exemplo, a missão 5, que trata de bioeconomia, descarbonização e transição energética, tem como uma de suas metas promover a indústria verde, visando reduzir em 30% a emissão de gases de efeito estufa. Para isso, o financiamento dessas iniciativas de inovação e tecnologia verde e sustentabilidade podem desempenhar a descarbonização da indústria do aço, um dos principais elementos responsáveis pela transição para a neutralidade de carbono no planeta e que, como deve ser ressaltado, carece de tecnologias disponíveis em escala industrial, sendo necessário políticas públicas como o NIB para dar suporte para essa transição do setor.

Junto a isso, estão os investimentos em infraestrutura necessários para melhoria da qualidade de vida da população, que vão eliminar gargalos e problemas estruturais das cidades, além de abrir caminho para a adoção de novas tecnologias, como carros elétricos e uma construção civil mais sustentável e digital. Além disso, este ano traz expectativas do início do Novo PAC, que deve atuar em conjunto com o NIB. No âmbito da digitalização, há um grande empenho em destravar a indústria 4.0, que hoje é utilizada por cerca de 23,5% das empresas do setor, mas que, pelas metas do programa, pode ser implementada por 90% das indústrias, trazendo ainda mais ganhos, criação de novas tecnologias e capacitação profissional.

Ademais, sobre o programa como um todo, sinto que é de suma importância a retomada do foco na indústria no país. Como colocado pelo vice-presidente do Brasil, Geraldo Alckmin, no evento de anúncio do programa, nosso país ficou 7 anos sem debater o fortalecimento da indústria nacional, o que se reflete nos dados divulgados por organizações e instituições. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a indústria brasileira saiu de um pico de representatividade no PIB de 48% em 1985 para 26,3% em 2022, uma queda de 21,7% pontos percentuais.

Nesse sentido, parte da responsabilidade dessa queda está na contínua redução de investimentos no setor, que atingiram seu menor valor, de R$ 19 bilhões em 2022, perante R$ 79 bilhões em 2010. Avaliando esses dados, a FIESP (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) afirma que o Brasil precisaria investir R$ 456 bilhões anualmente pelos próximos 7 a 10 anos para retomar o auge da indústria de transformação vista nos anos 1980 – um valor estimado que o NIB não cobriria, mas que poderia abrir novas frentes para alcançar algo mais factível para o restante da década.

É com essa visão que acredito ser de suma importância que o Brasil busque impulsionar sua indústria, a fim de voltarmos a ser um país competitivo em escala global. Mais do que isso, também é o principal caminho para proteger o conteúdo local, produzido aqui e responsável por gerar empregos, e consequentemente, renda para as famílias brasileiras, além de fazer com que nosso setor produtivo pare de perder espaço para as importações, que nem sempre são feitas com isonomia.

Com o lançamento do NIB, o governo mostra disposição em promover uma estratégia promissora de investimento e financiamento para a indústria. Vamos continuar acompanhando como serão as regras e metas estabelecidas para garantir que o mais importante aconteça: crescimento e desenvolvimento socioeconômico do país.

*Gustavo Werneck é CEO da Gerdau.

 

Fonte: Revista Exame

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