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Rondônia, segunda, 13 de maio de 2024.

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Dia nacional do livro: ONG Doutores da Amazônia conta em livro a jornada que leva saúde de ponta para os povos da floresta


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Mobilizar corações, mentes e esforços para a construção de uma realidade com mais justiça social é o que norteia ONG Doutores da Amazônia, que percorre aldeias e comunidades ribeirinhas para levar o direito à saúde pública aos povos da floresta. Essa jornada é contada no livro “Levante e lute”, que será lançado em outubro.

Em quase uma década de atuação, a ONG possui seis bases em Rondônia – o estado na qual foi fundada e onde que possui o maior número de pontos de atuação do projeto – e já realizou mais de 60 missões, ultrapassando 600 voluntários envolvidos em atendimentos a mais de 60 povos da Amazônia, levando alta tecnologia médica a territórios isolados – um marco mundial no voluntariado da saúde.

Presente em Rondônia nas localidades de Distrito de Nazaré, Reserva extrativista Lago do Cuniã, Aldeia Paiter Suruí, Aldeia Uru-eu-wau-wau, Aldeia Amondawa, e Aldeia Ykolen, a ONG promove atendimentos médicos gratuitos nas áreas de oftalmologia, clínicos gerais, radiologistas, pediatras, intensivistas, medicina da família, ginecologistas e obstetrícia, infectologistas, dermatologistas, exames de ultrassom, eletrocardiograma, confecção e distribuição de óculos de grau, testes rápidos, assistência farmacêutica e de enfermagem, além de biomedicina.

Na área odontológica, realiza confecção de elementos dentários com o sistema cerec cad cam, um fluxo 100% digital. Próteses, Exames de RX digital, extrações simples e complexas, restaurações simples e complexas, implantes dentários, próteses sobre implantes, atendimento infantil, enxertos ósseos, distribuição de kits de escovação, palestra de prevenção e confecção de elementos dentários, com pino de fibra de vidros.

“Milagres possibilitaram tudo isso. Nossa meta era levar o melhor padrão de atendimento de saúde a quem quase não tinha acesso. Nos movemos pela crença do ‘não deixe para depois. Levante e lute!’”, diz Caio Machado, dentista, ativista e diretor da ONG.

O lema intitula o livro que relata a história do surgimento da Doutores da Amazônia e sua atuação, desde 2015. Escrita por Caio Machado, em parceria com a jornalista Ana Augusta Rocha e fotografias de Cassandra Cury, a publicação traça um panorama do trabalho dos profissionais de saúde e celebra o encontro entre diferentes culturas, que integram seus saberes em nome do bem comum.

Doutores e pajés, médicos e raizeiros, o objetivo de todos é o mesmo: melhorar a vida, o bem-estar e buscar a felicidade dos povos da floresta. As fotos estabelecem, ao longo das 160 páginas, um rico diálogo com o texto, um depoimento de Caio sobre as experiências destes anos à frente do projeto, e cuja história de vida está em simbiose com a da ONG.

Despertar de sonhos intranquilos
O início dessa caminhada coletiva se deu de forma solitária. Caio conta que, aos 26 anos, era um jovem que havia abandonado os estudos e não tinha perspectivas. “Até então, eu só havia conseguido terminar o ginásio e ostentava um currículo extenso em confusões e perdas de tempo”, relata. Foi quando recebeu um chamado que foi o chacoalhão que mudaria sua vida. “Acordei e ainda nem era dia. A vida passava como um filme pela minha cabeça. ‘Levante, levante’, uma voz me disse. Bastou um chamado e um despertar espiritual para eu ter forças e mudar”.

Em seis meses, Caio estava formado no Ensino Médio e já prestando vestibular. Escolheu seguir os passos do pai, um cirurgião-dentista renomado. No curso de Odontologia, logo foi chamado para atuar em um projeto de atendimento a comunidades da Amazônia, na região do Baixo Madeira, Rondônia. Seria a primeira vez que aquele rapaz cosmopolita, nascido e  criado em São Paulo, iria vivenciar o Brasil profundo.

“Eu entendi, naquela viagem, a potência da floresta — ao longo dos dias, a paisagem entrava em mim e as pessoas me tocavam profundamente com sua simplicidade. Gestos singelos, olhares sinceros: humanidade”.

Nasce a ONG
Na passagem de 2013 para 2014, Caio faz sua segunda missão em Rondônia. Desta vez, o cenário era outro: a cheia do Rio Madeira, a maior em séculos, submergiu diversas casas, e invadiu o posto de saúde da comunidade, onde ele atuaria como voluntário naquela missão.

“Chegamos em Porto Velho e fomos pegos de surpresa: não era o mesmo lugar que eu conhecia. Assolada por uma grande chuva, a cidade tinha virado um rio por inteiro. Quase não havia terra à vista. Seria impossível chegar ao nosso destino com todos os equipamentos médicos”, relembra.

A elevação do Rio Madeira inundou a área portuária de Porto Velho e interditou a BR-364, isolando as localidades de Guajará-Mirim, Nova Mamoré e Abun. Num esforço, o grupo de voluntários retirou os equipamentos odontológicos do posto de saúde, que estava quase destruído pelas águas, e improvisou um centro de atendimento que, durante 15 dias, funcionou dentro de um bar chamado Hollywood, onde centenas de pessoas foram consultadas.

“Terminada a viagem, uma percepção me veio à cabeça: Holly (sagrada) wood (floresta). A mensagem estava dada. Assim, em meio a um local realmente sagrado para o Brasil e para o mundo, consagramos a ONG que nascia: a Doutores da Amazónia”, conta Caio.

A ONG é fundada em 2015 e, no mesmo ano, mobiliza uma grande equipe de voluntários com médicos, psicólogos e enfermeiros. Em 2016, a ação está ainda maior e realiza centenas de procedimentos em duas comunidades: no distrito de Nazaré e na Reserva Extrativista do Lago do Cuniã.

Neste momento, mais um chamado se anuncia a Caio. A indigenista Ivaneide Bandeira, conhecida como Neidinha Suruí, ativista histórica na luta indígena e fundadora da ONG de Defesa Etnoambiental Kanindé, o convida a atuar junto ao povo Paiter-Suruí, dos estados de Rondônia e Mato Grosso.

Marco mundial
A parceria junto à ONG Kanindé se concretiza em 2017, e se torna um marco histórico mundial na atuação do voluntariado médico. “Resolvi sonhar um pouco mais alto e levar equipamentos de alta tecnologia para comunidades e aldeias”, relata Caio.

O equipamento em questão chama-se Cerec Cad/Cam, um scanner intraoral com uma fresadora 3D que proporciona a confecção de um elemento dentário em um curto espaço de tempo, de alta qualidade e acabamento estético de ponta. Através desse scanner digital, desenha-se a arcada dentária na tela; depois, os elementos dentários são confeccionados.

“Fomos a primeira organização do mundo a aplicar essa tecnologia em missões de voluntariado. Desde 2017, percorremos mais de 60 aldeias levando tecnologia ultra especializada, inclusive a povos isolados, e provando para o poder público, em pleno século XXI, que podemos realizar na floresta os mesmos atendimentos dos grandes centros”.

Em seguida, a equipe ruma à aldeia de Lapetanha, na Terra Indígena Sete de Setembro, e dos povos Paiter-Suruí e Uru-Eu-Wau-Wau. Ali, se estabelece uma profunda relação entre Caio e o povo Suruí. O dentista é batizado pela etnia, recebendo o nome de Gamebey.

“O encontro com toda aquela gente me emocionou profundamente, desde os primeiros instantes. Se durante mais de dez anos a minha experiência amazônica se concentrará mais nas populações ribeirinhas, agora, com os indígenas Suruí, eu tinha uma certeza absoluta: além de ter voltado para casa, tinha reencontrado minha família”, relata Caio.

Saúde para todos
A jornada da ONG Doutores da Amazônia de levar atendimento médico de qualidade para o coração da floresta amazônica é um sonho que virou realidade e já impactou a vida de dezenas de milhares de pessoas. Afinal, sem saúde aos povos da floresta, não há floresta em pé.

“A saúde tem que chegar na ponta, tem que chegar para todo mundo. Não é justo que atendimentos especializados e de qualidade beneficiem somente uma parte da população”, destaca Caio.

O projeto “Levanta e Lute” tem, portanto, a missão de semear a mensagem sobre a importância de iniciativas em prol de populações em situação de vulnerabilidade. Parte da tiragem de 2 mil exemplares será destinada a apoiadores que fizerem contribuições para a ONG e o restante será distribuído em escolas, instituições do terceiro setor e para formadores de opinião, voltados ao fortalecimento à causa indígena e a da saúde.

Além do lançamento do livro, o projeto também é composto por um projeto pedagógico com jovens do povo Kalapalos, no Xingu, que teve início em junho deste ano.

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