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Rondônia, sábado, 27 de abril de 2024.

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Depois dos grupos de risco, vacinas se tornarão artigos de luxo?


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A vacina contra o coronavírus não deveria ser uma passagem para a liberdade. Sua aplicação dividida em grupos populacionais foi feita para inocular os trabalhadores da linha de frente e os mais vulneráveis antes do resto da sociedade.

Mas, agora, a distribuição dispersa e atrasada da oferta ainda limitada ameaça criar uma nova classe social temporária – que inclui não apenas pessoas que correm maior risco de infecção ou doença grave e morte, mas também clientes de supermercados em Washington; influenciadores indonésios; professores do ensino fundamental; celebridades americanas; repórteres do “New York Post” e outros que, por causa de seu trabalho ou por causa da sorte, foram capazes de logo se imunizar.

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Os testes das vacinas mostram que elas são incrivelmente eficazes. Mas as pessoas ainda podem contrair o coronavírus enquanto estão em processo de inoculação, e possivelmente ainda podem espalhar o vírus, especialmente se entrarem em contato próximo com outros ou se pararem de usar máscara.

Como resultado, enquanto as pessoas clamam para entrar na fila para o que representa a única segurança real contra uma doença que matou milhões, muitos indivíduos que foram vacinados esperarão pacientemente até que sejam informados de que já é seguro se aglomerar.

Outros, porém, se sentirão encorajados a começar a se reunir com seus pares vacinados. Alguns deles estarão entre os mais privilegiados do mundo.

O Knightsbridge Circle, serviço de viagens de luxo em Londres que cobra 25 mil libras (cerca de US$ 34.200) por ano de adesão, causou celeuma em janeiro quando seu fundador, Stuart McNeill, disse ao jornal “The Telegraph” que o clube levaria membros com 65 anos ou mais aos Emirados Árabes Unidos (EAU) para receber vacinas particulares. (No Reino Unido, a vacinação só está disponível por meio do Serviço Nacional de Saúde.)

Desde que anunciou a oferta, o clube, que organiza viagens e acomodações de luxo para seus membros, recebeu mais de dois mil pedidos de adesão e milhares de telefonemas, e-mails e solicitações em redes sociais, de acordo com McNeill. Ele também escreveu, em resposta a perguntas enviadas por e-mail, que sua organização foi procurada por “várias empresas de jatos particulares”, que querem se juntar ao clube para transportar os vacinados.

Sua organização anunciou que começaria a vender vacinas para pessoas que não eram membros do clube anteriormente por dez mil libras por pessoa, desde que os indivíduos tenham 65 anos ou mais – ou possam provar que têm comorbidades. (O Knightsbridge Circle “pedirá provas disso na reserva”, escreveu um porta-voz em um e-mail.)

As vacinas virão como parte de um “pacote de adesão” de três semanas. Mas esse pacote não incluirá nada além da vacina e do transporte entre o aeroporto e os locais de vacinação. Os interessados terão de reservar passagem aérea e três semanas de acomodações por conta própria.

Para os clientes de McNeill, a verdadeira diversão virá assim que as inoculações terminarem. Alguns dos que esperam ser vacinados nos Emirados Árabes Unidos tentam agendar excursões especializadas depois de inoculados, disse ele, acrescentando: “O safári no deserto parece ser a mais popular.” (Os membros que viajam para os EAU ficarão lá pelo tempo necessário para a segunda dose.)

McNeill também afirmou que, dada a incerteza em torno dos programas tradicionais do calendário da primavera deste ano – Royal Ascot, Grand Prix de Mônaco e Torneio de Wimbledon –, ele espera que seus clientes vacinados “sigam para o Mediterrâneo” mais cedo do que o habitual. (Ele informou que os principais destinos para os clientes da empresa incluíam St.-Tropez, Mykonos, Ibiza e Bodrum.)

Essa classe dos recém-vacinados significará que hotéis, serviços de bufê e outras empresas tentarão empregar bartenders, garçons e outros funcionários que também estejam vacinados, para garantir a segurança de todos. A vacinação começará a representar não só a segurança contra o vírus, mas também, para alguns, uma vantagem no mercado de trabalho.

“Assim como parceiros de negócios exigem verificações de antecedentes para todos os nossos profissionais hoje, muitas pessoas vão começar a dizer: ‘Ei, envie profissionais vacinados também’”, declarou Jamie Baxter, executivo-chefe da Qwick, plataforma web com sede no Arizona que conecta trabalhadores de serviços com empregadores. Ele contou que a Qwick já tinha começado a pensar em como verificar quais trabalhadores em sua plataforma haviam sido vacinados.

‘Os que foram e os que não foram’

Mais de 40 milhões de doses da vacina foram administrados em todo o mundo, a maioria para profissionais de saúde, socorristas e idosos, muitos dos quais vivem em asilos. A classe vacinada é e continuará sendo uma parcela relativamente pequena da população durante o primeiro semestre de 2021.

Isso dificulta que economistas e empresas antecipem quando as pessoas começarão a se reunir em números substanciais (em lugares onde ainda não o fazem) e qual será o impacto econômico dessa atividade.

“As pessoas estão animadas para se vacinarem contra o Sars-CoV-2, mas podem estar superestimando o que essa proteção significa. É importante que calibrem suas expectativas e entendam que seu comportamento depois da imunização ainda tem de se concentrar na proteção das pessoas ao seu redor”, enfatizou Jennifer Reich, professora da Universidade do Colorado, em Denver, especializada em política de saúde.

Mas, mesmo assim, alguns espaços de eventos privados estão se preparando para os tempos de grande procura na primavera e no verão do Hemisfério Norte. A Peerspace, plataforma de aluguel de espaços comerciais (pense no Airbnb para eventos e festas) divulgou que já está fazendo reservas para seus 20 mil endereços ao redor dos Estados Unidos a partir do fim de maio.

Eric Shoup, executivo-chefe da Peerspace, disse que estava interessado em ver se cidades e estados fariam subsídios especiais para aqueles que haviam sido vacinados, especialmente quando uma parcela significativa da população estiver imunizada. “Haverá os que foram e os que não foram”, comentou.

Reich, a socióloga da Universidade do Colorado, em Denver, afirmou temer que autoridades do governo possibilitem atividades irresponsáveis dos recém-vacinados. Ela pediu que até mesmo aqueles que foram vacinados se contenham até que a proteção concedida pela imunização seja mais bem compreendida – ou que a proteção seja mais difundida –, a fim de evitar cenários piores. “As pessoas vão se sentir traídas quando souberem mais tarde que achavam estar protegidas, mas que acabaram matando seus avós.”

 

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Fonte: Revista Exame

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