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Rondônia, sexta, 26 de abril de 2024.

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Como salvar o máximo de vidas


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A pandemia do Coronavírus trouxe, mais do que nunca, a necessidade de união no Brasil: seja entre gerações, entre as diferentes esferas de governo, e entre os setores público e privado. Agora é preciso pensar em soluções e planos estratégicos que, ao mesmo tempo, protejam os grupos de risco, mas também impeçam a morte da economia brasileira: levando milhões de pessoas ao desemprego, à miséria e a consequências que seriam igualmente devastadoras.

É importante tratar esta crise com responsabilidade e objetividade. Em seu pronunciamento oficial realizado na última terça-feira (24), por exemplo, o governo ressaltou a importância de não travar a economia, mas não explicou como poderíamos liberar o funcionamento de setores sem que a vida da população seja colocada em risco. Também reforçou a necessidade de preservar a população mais vulnerável, mas não apresentou medidas concretas para que isso seja feito. Não estamos em períodos de achismo: todas as ações devem ser tomadas com base em estratégia, em cima de planos claros e coordenados, construídos através da união entre especialistas em saúde, economistas, governos municipais, estaduais e federal, além de toda a sociedade.

Consultados pelo Instituto Millenium, especialistas analisaram o cenário mundial, aplicando esta realidade ao Brasil, que precisa ficar atento às suas particularidades. Ouça!

As vidas devem ser preservadas. Por outro lado, precisamos voltar os olhos para a atividade econômica, que também afeta diretamente a população. O sociólogo Demétrio Magnoli, Doutor em Geografia Humana, alerta que as consequências de uma paralisia completa no país não podem ser subestimadas: o somatório de dívidas acumuladas, falência das empresas e desemprego em massa pode causar um verdadeiro caos social. “Esse risco existe, é muito presente e não é algo para o futuro distante. Uma coisa é produzir lockdown (paralisação geral da economia) em países que têm níveis de renda, proteção social e desigualdades da Europa. Outra coisa é produzir a restrição similar em países com imensas desigualdades, rede de proteção social frágil e massas de população na pobreza e na informalidade”.

Demétrio Magnoli destacou que é preciso ter equilíbrio ao abordar o assunto. “Hoje em dia, se tornou comum dizer que nós vamos escolher salvar vidas em detrimento da economia. Se alguém diz que há problema econômico premente e fundamental, a resposta é: ‘primeiro as vidas, depois a economia’. Como se houvesse uma escolha entre a vida e a economia. Essa alternativa é falsa, porque a economia é vida”, disse, abordando os efeitos que um colapso pode gerar. “Essa crise pode provocar uma depressão maior do que aquela causada pela crise financeira de 2008; e, talvez, maior do que a do crash da Bolsa de Nova York em 1929. E uma depressão de dimensões assim cobra vidas, em duas dimensões. Mata os mais pobres, colocando esses milhões, que hoje estão na pobreza, na miséria, e provoca mortes em massa, pois resulta em subnutrição, falta de acesso a remédios básicos, na pobreza generalizada. Isso também atinge bastante a classe média baixa, gerando desesperança, que mata através da bebida, através de drogas”, disse.

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O sociólogo destacou também que uma paralisação tão drástica só poderia ser feita por um prazo determinado. “É preciso salvar vidas mantendo a economia ativa. A ideia de que se pode desligar a economia por tempo indefinido deve ser afastada. Só se pode desligar a economia com lockdown por um tempo muito limitado, ou a cura pode se tornar pior do que a doença”, alertou o sociólogo, lembrando que as consequências devastadoras são inevitáveis, e o trabalho deve ser feito no sentido de evitar que isso se transforme em uma implosão geral em todo o mundo.

Lockdown vertical é uma alternativa?

O administrador de empresas e articulista João Luiz Mauad também ressalta a necessidade de equilibrarmos os dois extremos. Ele cita algumas estatísticas. Nos Estados Unidos, por exemplo, segundo o especialista, o índice de desemprego no segundo trimestre pode passar de 3,5% para 11,5%. Embora o Brasil não possua a mesma realidade e infraestrutura de nações europeias e asiáticas, sobretudo por não haver uma cultura de poupança nem no governo, nem entre a própria sociedade, podemos olhar para o enfrentamento dado por outros países à doença, de modo a aplicar aqui os bons exemplos.

“Há países que conseguiram fazer isso com algum sucesso, como a Coreia do Sul e o Japão, que apesar de ter uma grande população de idosos, conseguiu controlar a epidemia sem prejudicar muito a economia. Claro que a economia de todos os países vai ser afetada de algum modo, mas o que preocupa é uma depressão sem precedentes”, alerta Mauad.

Isolamento deve ser feito com inteligência

A economista Rita Mundim ressalta que os governos devem achar formas de manter as cadeias produtivas funcionando. Ela acredita que, com criatividade e segurança, é extremamente possível permitir que setores da economia, sobretudo os mais essenciais, permaneçam ativos durante o período de quarentena. No entanto, para que isso ocorra, é preciso que o isolamento seja feito com inteligência e eficiência.

Uma ideia apontada pela especialista seria encontrar maneiras de permitir que pessoas saudáveis mantenham seus trabalhos, mas se direcionem a outros locais após o expediente, de modo a não ter contato com parentes mais vulneráveis. “De repente podemos criar alternativas para que quem tem contato com estes grupos não retorne e fique em algum lugar onde possa produzir. Talvez seja muito mais barato uma medida deste tipo, onde possamos blindar as pessoas dos grupos de risco. E o mais importante: realizar testes para que aqueles que estejam aptos possam voltar a produzir. Temos que criar uma logística que permita que a atividade econômica não pare, pois é esta economia real que mantém de pé os empregos e a renda”, diz, ressaltando que uma ação coordenada deve envolver, também, diferentes ministérios do governo.

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Setores essenciais para a economia, como o Agro e a indústria, estão adotando medidas para minimizar os danos do vírus e permitir o seu funcionamento. Bons exemplos devem ser compartilhados por toda a sociedade.

“O que vai determinar o tamanho da recessão é o prazo desse isolamento social. Se formos na mesma lógica de recuperação da China, e ‘perdermos’ só o primeiro semestre, podemos ter uma retomada forte no segundo semestre e a dor pode não ser tanta. É um grande desafio que nunca aconteceu na história da humanidade. Principalmente para o Brasil, que estava fazendo a virada, saindo de uma recessão, e preparando o campo para um crescimento mais acelerado, quando fomos atingidos desta forma. Precisamos preservar a capacidade intelectual, de produção, de mão de obra… temos que tomar cuidado com todas as vidas”.

Recado do Millenium

Nós estamos ao seu lado neste momento sem precedentes na história da humanidade. Afirmamos que prezamos pela saúde de todos, bem como pela boa eficiência do Sistema Único de Saúde. Neste cenário, também se faz presente a necessidade de pensarmos em longo prazo, de modo a preservar o futuro do país como um todo.
Colocamos à disposição todo o nosso conteúdo para que possa se informar durante este período. Seguimos juntos!

Fonte: Revista Exame

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