Exame
A importância da pontuação na compreensão de um texto
Nesta semana, trago uma crônica, usando o recurso da metalinguagem, quando o ato de comunicação usa a linguagem para tratar sobre a própria ou sobre outra linguagem.
Como a pontuação influencia a compreensão de um texto
Logo que comecei a praticar esportes, puseram-me em um grupo de Zap (o apelido brasileiro para o aplicativo de mensagem urgente). A primeira frase foi uma resposta de um tal Edu:
– Amanhã vocês vão no treino não
Um outro colega, mais ácido, perguntou:
– Isso quer dizer que sim ou não?
Eduardo reelaborou o texto, aparentando impaciência:
– Eu apenas incentivei… será que você sabe ler?
Airton, com empatia à gramática textual, redigiu:
– Edu, é melhor rever a mensagem… você sempre traz algo confuso.
Outros conseguiram enxergar a intenção de Eduardo:
– Sim, ele foi bem claro na mensagem, oras! Está incentivando o grupo.
Um senhor retrucou:
– É porque faltou a pontuação.
Eduardo, então, se esbaldou:
– Tá vendo Airton…
Airton na sagaz resposta:
– Quem me vê? Obrigado!
Pronto! Figurinhas divertidas e símbolos foram lançados no grupo, enquanto uma impaciente decidiu sair dali.
(Lis saiu)
Eduardo enfumaçou ainda mais o clima:
– A colega saiu do grupo e o motivo são vocês não…
Airton enfatizou:
– Não mesmo!
Edu rebateu:
– Eu fiz uma pergunta cara…
Um piadista que quase não aparecia ali:
– Se fosse mais barata, talvez ela tivesse ficado, Edu.
Com mais gasolina na fogueira, cheia de lenha entre os “amigos”, Edu, então, partiu para o ataque final:
– Alguns se fazem de difícil não entendem… é difícil demais!!!!!
Airton, o sarcástico maior, deixou duas possibilidades:
– Alguns se fazem de difíceis, não entendem.
ou
– Alguns se fazem de difíceis não, entendem.
Amargurado em sorrisos, Eduardo desistiu:
– Tudo. Bem. Aqui. Vou. Usar. Todos. Os. Pontos. Ô. Povo. Chato.
Airton termina:
– Muito bem! E… não se eduarde!
O novo verbo passou a ser usado quando alguém despreza a organização textual. São gramatiquices típicas de um grupo que leva tudo na esportiva.
Um grande abraço e até a próxima,
DIOGO ARRAIS
YouTube: MesmaLíngua
Professor de Língua Portuguesa
Fonte: Revista Exame