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Rondônia, sábado, 20 de abril de 2024.

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Éric Zemmour: quem é o candidato de extrema-direita que ameaça Macron


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Um nome até então pouco conhecido está embaralhando a política francesa. O jornalista Eric Zemmour, de extrema-direita, se coloca como candidato à Presidência da França nas eleições de 2022 e caminha para ameaçar a reeleição do atual presidente, Emmanuel Macron.

Aos 63 anos, Zemmour é às vezes chamado de “Trump francês”, em referência ao ex-presidente americano.

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Mas trouxe também ao debate temas moldados para o gosto francês, como as críticas à imigração, à União Europeia e a pautas de costumes que em sua visão visam “destruir a família” e o tradicionalismo.

Até pouco tempo atrás, Zemmour era somente um comentarista conhecido e controverso, e com alguma pretensão política devido à popularidade na mídia. Mas as projeções começaram a virar nos últimos meses.

Pesquisas já mostram Zemmour chegando ao segundo turno da eleição presidencial, desbancando Marina Le Pen, da Frente Nacional, até um dos maiores nomes da extrema-direita europeia. Ao lado de Zemmour, Le Pen passou a ser vista como moderada demais.

Em pesquisa da Harris Interactive no começo de outubro, Macron teria entre 24% e 27% dos votos no primeiro turno e Zemmour obteria entre 17% e 18% dos votos, à frente de Le Pen (de 15% a 16%).

Macron venceria no segundo turno ainda assim, com 55% dos votos.

Mas a ascensão do jornalista conservador chamou atenção. “Nunca um candidato registrou em tão pouco tempo uma evolução como a de Éric Zemmour nas intenções de voto”, disse Antoine Gautier, da Harris Interactive, na divulgação dos resultados.

Marine Le Pen (em foto de 2018): antes vista como a candidata mais à direita do espectro, Le Pen pode perder a vaga no segundo turno para ZemmourChesnot/Getty Images

Carreira como comentarista “polêmico”

Zemmour estudou na prestigiada universidade francesa Sciences Po, e foi repórter e colunista desde os anos 90 em veículos como o jornal Le Quotidien de Paris e a revista Le Figaro.

Ganhou notoriedade também como comentarista na TV, com comentários conservadores e que agradaram ao público mais à direita.

Zemmour sempre disse que fugia do que chamava de “politicamente correto” que, em sua visão e de apoiadores, dominava a imprensa francesa.

Em meio à crise dos refugiados que abalou a Europa por volta de 2015, Zemmour foi uma das vozes que mais criticou a chegada de refugiados africanos e árabes à França.

Zemmour diz que não é de extrema-direita, e critica quem o avalia dessa forma, afirmando que esta é uma “estratégia soviética” para deslegitimar opositores.

Ele se classifica como de direita e numa linha “gaulista”, em referência ao general e ex-presidente Charles de Gaulle, que liderou a França na Segunda Guerra Mundial e foi o principal político pós-guerra, até o fim dos anos 60. Também se diz “bonapartista”, em referência a Napoleão Bonaparte, que tomou o poder após a Revolução Francesa.

Já Macron, que se elegeu como novidade em 2017, tem sido criticado por movimentos conservadores, como no movimento dos “coletes amarelos” em 2018 e nos protestos contra o passaporte da vacina neste ano. Ao mesmo tempo, suas tentativas de reformas trabalhistas são criticadas pela oposição à esquerda.

Embora liberal na economia, o que irrita parte da esquerda, Macron também tem pautas ambientais e liberais nos costumes, além de absolutamente pró-União Europeia, o que gera críticas entre conservadores e protecionistas.

Assim, Zemmour tem surfado na insatisfação com o governo Macron e com restrições como o passaporte da vacina, que se tornou obrigatório neste ano e levou a semanas seguidas de protestos.

As críticas já afetam o governo nas urnas, e os resultados das eleições locais neste ano foram ruins para Macron.

Por ora, as chances de Zemmour vencer de fato a eleição presidencial ainda soam remotas, e muito pode mudar até o pleito de abril de 2022.

Mas sua ascensão tende a apagar, para além de Macron, outros grupos políticos mais moderados ou tradicionais, à direita e à esquerda.

Na prática, se somados, Zemmour e Le Pen podem chegar a 34% dos votos, à frente do próprio Macron, o que mostra que a direita radical na França ainda tem espaço considerável no debate público. 

Enquanto isso, na mesma pesquisa que coloca Zemmour no segundo turno, o candidato da direita tradicional, Xavier Bertrand, teria só 13% dos votos no primeiro turno.

Bertrand é ex-membro dos Republicanos, partido mais tradicional de direita na França e do ex-presidente Nicolas Sarkozy. Esse grupo é um dos que mais tem perdido votos com a ascensão da extrema-direita.

Do outro lado do espectro, o esquerdista Jean-Luc Mélenchon, do partido França Insubmissa e vista como mais radical à esquerda, seria o melhor posicionado com 11% – e também abaixo dos 19% que obteve em 2017.

França e o futuro da Europa

Há uma grande expectativa sobre as eleições francesas em toda a Europa, porque o resultado pode definir os rumos de discussões cruciais na região e em todo o mundo.

Com Zemmour presidente, não está descartado, no limite, um cenário de tentativa de saída francesa do bloco, aos moldes do Brexit no Reino Unido. Isso poderia gerar novos abalos na economia europeia e em todo o mundo – um risco que mercados e analistas só agora começam a efetivamente calcular.

Enquanto isso, Macron, se reeleito, terá de liderar no âmbito da UE mudanças estruturais pelas quais o bloco terá de passar, como a recuperação da crise da pandemia e a transição energética.

As crises energéticas que abalam a Europa nos últimos meses mostram que a discussão será extremamente complexa.

A França assume a presidência rotativa da União Europeia em janeiro, período que deve coincidir com o fim do mandato de Angela Merkel na Alemanha (um governo liderado pela centro-esquerda começa a ser formado no país, o que também pode impactar o debate).

“Enquanto Macron causa mais divisão do que Merkel [na UE], ele ao menos tem a energia para tentar moldar o futuro da agenda da União Europeia”, disse em entrevista à EXAME em setembro Naz Masraff, diretora para Europa na Eurásia. A consultoria aposta, por ora, na probabilidade de que Macron seja reeleito, em um mandato de cinco anos.

Macron e Merkel, em junho de 2021: com o fim do mandato da chanceler, se reeleito, Macron será um dos líderes na definição do futuro da União EuropeiaAxel Schmidt – Pool/Getty Images

Na vizinha Alemanha, aliás, a eleição foi longe de boa para a extrema-direita. O partido Alternativa para a Alemanha (AfD), que havia chegado ao Parlamento alemão pela primeira vez em 2017, manteve seu tamanho, mas não conseguiu crescer e deve seguir isolada pelos demais partidos.

Como Le Pen na França ou o referendo do Brexit no Reino Unido, a AfD ganhou suas primeiras cadeiras no Parlamento na esteira de temas como a crise dos refugiados e insatisfação com a União Europeia. No caminho, ofuscaram partidos de centro e da direita tradicional em vários países europeus.

Passados quatro anos, a dúvida é o quanto esses movimentos conseguiram sobreviver. Mas seja qual for o resultado na França, uma coisa é certa: a extrema-direita da França tenta mostrar que segue forte.

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Fonte: Revista Exame

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