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Rondônia, terça, 23 de abril de 2024.

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Herdar fortuna bilionária traz felicidade? Não para este jovem


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Herdar uma fortuna bilionária pode parecer um sonho – especialmente num país em que 41% da população convive com a fome ou tem algum grau de insegurança alimentar. No extremo oposto da situação vivida por 84,9 milhões de pessoas no Brasil está Tyler Huang. O jovem de apenas 23 anos que vive em Singapura pode comer carne Wagyu, a mais cara do mundo, todos os dias, caso queira, como mostrou entrevista concedida à Vice.

Apesar da ideia de ter tantos bilhões parecer tentadora, ele garante que a realidade não é tão satisfatória assim. “A riqueza pode resolver muitos problemas externos, mas não faz nada para resolver os problemas internos”, afirmou Huang ao site.

Para Huang, além dos fatores aparentemente óbvios de alguém com uma fortuna tão extensa – viver cercado por seguranças, ter uma rotina completamente diferente das crianças ‘normais’ – o peso da fortuna e a pressão para ser bem-sucedido também o afastaram de um convívio mais próximo com seus pais ao longo da vida. Em parte porque, ainda criança, o jovem foi diagnosticado com síndrome de Asperger, depressão e autismo ainda muito jovem, algo que a família tratava como “preguiça”.

Mesmo com o esforço para atender às expectativas e as consequentes mudanças de escola ao longo da vida, para Huang a incapacidade de atender às expectativas dos pais se tornou um fardo e, mesmo hoje, com ambos falecidos, ele afirma que sente muita vergonha por não ter conseguido manter uma carreira como a que seus pais pensavam.

Um estudo de 2005 feito pelos pesquisadores Shawn J. Latendresse, Ph.D. em psicologia e neurociência, e por Suniya S. Luthar, professora emérita na Universidade de Colúmbia, mostrou que ele não está sozinho. Em geral, crianças que são filhas de pessoas muito ricas tendem a ser mais depressivas e ansiosas do que pares de renda menor.

“Pressões excessivas para atingir metas e isolamento dos pais contribuem para essa situação. Mesmo considerando que eles são, sem dúvida, privilegiados em muitos aspectos, há claramente o potencial para algumas ameaças em relação ao bem-estar psicológico”, escrevem os pesquisadores.

A tese de que ter muito dinheiro traz felicidade instantânea também é desmontada por Warren Buffett, bilionário americano. Em entrevista concedida ao canal CNBC em 2018, ele afirmou que a perspectiva de que alguém sempre vai ter mais dinheiro do que você faz com que a felicidade atrelada ao dinheiro não dure muito. “Você não será mais feliz se dobrar seu patrimônio”, afirmou.

Essa sensação de “inércia” diante de uma fortuna que não pode ser gasta mesmo com muito esforço faz com que muitos bilionários entrem em depressão, como disse o professor Manfred Kets de Vries em uma entrevista ao The Telegraph.

No caso de Huang, além da saúde mental, ele foi diagnosticado aos 19 anos com câncer em estágio 4 no lóbulo frontal do cérebro e foi dispensado do serviço militar obrigatório. Para lidar com a doença, ele toma três comprimidos no café da manhã, 12 no almoço e oito no jantar.

Depois do susto com o diagnóstico, ele conseguiu se dedicar brevemente à arquitetura – até perder o irmão e os pais em um curto espaço de tempo, de 2017 a 2020. Essa conjunção de fatores piorou a depressão do jovem, segundo a matéria da Vice.

Para lidar com um cotidiano de tantos conflitos internos, o jovem afirma que gosta de passar o mínimo possível de tempo no próprio apartamento, em Singapura. A maior parte do tempo é gasta em lugares públicos – sendo um bar na cobertura um dos destinos favoritos.

Essa realidade é vista com certo julgamento pelos amigos com quem andava, que não conseguem correlacionar as saídas com o diagnóstico de depressão. Por causa disso, Huang passa a maior parte do tempo sozinho. “Eu gosto de ter coisas legais, mas você não pode formar um relacionamento forte com uma camiseta de grife”, afirmou, à Vice.

 

Fonte: Revista Exame

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