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Rondônia, sábado, 20 de abril de 2024.

Exame

Depois de vender Aesop, Natura &Co traça plano para voltar a lucrar


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Depois do sonho grande, a Natura &Co (NTCO3) mudou o foco do crescimento para a geração de caixa. É a jornada da companhia para tentar reverter as perdas e voltar a lucrar, algo que já começou a aparecer nos números do primeiro trimestre de 2023 e animou o mercado – a ação liderou as altas nesta terça-feira, 9. Mas essa missão está longe de ser fácil.

Se antes os US$ 2,52 bilhões da venda da Aesop pareciam sem destinação definida, agora a indicação é de que um plano está mais bem traçado. Vai ser esse montante que vai impulsionar a retomada das operações deficitárias do grupo, The Body Shop e Avon, e reforçar o momento mais forte de Natura.

É óbvio que tínhamos que fazer uma reestruturação financeira. Depois da venda da Aesop, as ações caíram. Mas eu tive certeza de que fiz a coisa certa. Alguém falou: ‘mas vendeu o que tem crescimento?’ E queria que eu vendesse o que? Tinha que vender a operação que tinha impacto no nosso número. Hoje, fazendo projeção de caixa, a gente fica extremamente confortável”, diz o CEO da Natura & Co, Fabio Barbosa. O problema, que era o mais “agudo”, segundo ele, está resolvido. 

O executivo falou em coletiva com jornalistas na tarde desta terça-feira, sem deixar claro se novos desinvestimentos devem acontecer. Mas, ao contrário do que parte do mercado aventava, Barbosa diz que a venda da The Body Shop “não está no radar”. 

O reforço de caixa, argumenta o executivo, dá condições para a Natura &Co fazer investimentos que trarão retorno. “Mas com disciplina”, reforça Barbosa. No primeiro trimestre, a dívida líquida da companhia aumentou em R$ 2 bilhões, para pouco mais de R$ 9 bilhões, o que deve ser endereçado com a conclusão da venda da Aesop prevista para ocorrer até o terceiro trimestre. O prejuízo líquido do período foi de R$ 652 milhões, estável em relação ao primeiro trimestre de 2022.

No primeiro trimestre, as margens brutas melhoraram em todos os negócios, com precificação mais intensa, mas esse avanço também tende a ser mais diluído ao longo do ano. De acordo com o CFO da Natura &Co, Guilherme Castellan, o carrego de preço foi maior no primeiro trimestre, já que a Natura &Co antecipou alguns aumentos de preço. “Margem bruta vai continuar forte nos próximos trimestres mas não vai ser na mesma magnitude. Em algumas marcas e categorias conseguimos antecipar aumento de preços para ter efeito no ano inteiro, considerando, sim, inflação futura ao longo desse ano.”

E, ainda que a melhora das margens tenha sido uma supresa positiva para os analistas de mercado, o tamanho do desafio do grupo de beleza ainda deixa uma sensação de preocupação no ar. “Embora acreditemos que a proposta de venda da Aesop dá à empresa a flexibilidade financeira necessária para conduzir mudanças estruturais nas marcas remanescentes, a recuperação também traz riscos. Cortar representantes e mercados deficitários é, em última análise, necessário para melhorar a lucratividade, mas também vemos desafios na redução do negócio”, escreve a equipe do Goldman Sachs.

The Body Shop, o desafio da Natura

Um dos maiores desafios da Natura &Co nesse momento é recuperar a The Body Shop. Comprada em 2017, a marca tem na origem propósitos parecidos ao da Natura, com ingredientes naturais, por exemplo. No primeiro trimestre, a receita da TBS caiu 9,4% e, apesar de melhora de 0,5 ponto percentual na margem bruta, a margem Ebitda ainda ficou 0,3 ponto percentual menor, a 6,1%.

Em abril, a empresa informou a saída de David Philip Boynton do comando da The Body Shop. Boynton liderou a marca e a transformação do negócio após a aquisição da The Body Shop em 2017. A marca britânica pertencia à L’Oréal. No seu lugar, Ian Martin Bickley foi nomeado como CEO interino.

“Avaliamos que a empresa precisava de uma nova energia. O David fez um bom trabalho, mas precisava de gente nova. É como trocar o técnico do time”, compara Barbosa. O objetivo nessa nova fase é reduzir custos, melhorar posicionamento da marca e rejuvenescê-la. “O Ian é extremamente experiente na questão digital e precisávamos focar nisso”, acrescenta o executivo, destacando que a marca está reduzindo número de SKUs e reformulando as lojas, além de sair da política de descontos.

Por fim, também vai intensificar a redução de despesas administrativas, que passaram a pesar mais enquanto as vendas caem, especialmente impactadas pelo momento inflacionário do Reino Unido. “O que queremos é que The Body Shop volte a crescer. Ela tem um potencial muito grande”, diz Barbosa.

Na Natura e na Avon, a Onda 2 de integração

Atualmente a melhor operação do grupo está na Natura &Co Latam, comandanda por João Paulo Ferreira. A divisão é especialmente puxada pelas vendas de Natura, que cresceram 25% na América Latina. No entanto, a tentativa de integração com a Avon ainda pressiona. As vendas da marca na região caíram 9,8%, refletindo as medidas da empresa para fazer a marca americana a voltar para os trilhos de rentabilidade.

Na chamada Onda 2 da integração dos negócios, o foco das sinergias está nas receitas, explica JP, como vice-presidente da Natura &Co Latam é comumente chamado. Para isso, o objetivo é que a base de revendedoras de Natura e Avon seja totalmente integrada, numa combinação da força de vendas.

Hoje, diz ele, a sobreposição de revendedoras Avon e Natura é de apenas 30% na média da América Latina (esse percentual é maior no Brasil, segundo ele, que não quis abrir o número). “É uma grande fonte potencial de crescimento. É a oportunidade de mostrar ao consumidor um portfólio ampliado”, argumenta.

Essa meta da Natura &Co não é à toa. As consultoras Natura têm rentabilidade maior do que a revendedoras Avon. O primeiro foi o Peru. “Resultados foram bastante encorajadores e nos deram confiança para seguir a diante com a Colômbia e, ao menos que tenhamos alguma mudança inesperada, seguir no Brasil ainda este ano.”

Fonte: Revista Exame

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