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Rondônia, sábado, 20 de abril de 2024.

G1

Desmatamento, rios e energia: série feita em Rondônia traduz conteúdos complexos para ‘linguagem da quebrada’


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Roteiro da série é acompanhado por especialistas para explicar termos técnicos com uma linguagem acessível. Conteúdo vai ser disponibilizado gratuitamente no New School, um aplicativo direcionado para jovens da periferia. Um movimento educacional que nasceu dentro de uma comunidade explica com linguagem simples assuntos complexos. É o New School, um aplicativo gratuito direcionado para jovens da periferia. A próxima série de conteúdos que deve chegar ao app é gravada em Rondônia nesta semana. A produção termina oficialmente no próximo sábado (18).
A série vai ter quatro episódios, entre os assuntos explicados estão:
pessoas,
rios e suas possibilidades,
floresta e desmatamento,
energia e infraestrutura.
O g1 conversou com os responsáveis pela pesquisa e desenvolvimento das aulas para entender como a série é gravada. Confira abaixo:
Bastidores da gravação da série em Rondônia
Casaquatro/Reprodução
“A gente constrói os roteiros com especialistas nos assuntos. Para traduzir tudo para uma linguagem simples trazemos especialistas periféricos que cresceram ouvindo gírias e entendem a realidade da favela. Mas tudo passa por um crivo, inclusive da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), para ter todo o cuidado de não perder a relevância da metodologia porque não adianta ter um conteúdo raso”, disse Ronald Pinheiro da Silva, cria da quebrada de São Paulo, lá ele é conhecido como mano Ronald.
Tudo que foi produzido em Rondônia vai ficar dentro do aplicativo New School, disponível gratuitamente para pessoas de todo o mundo.
Outro ponto importante para a construção narrativa das aulas é tentar mostrar para os estudantes espalhados pelos quatro cantos do país, como é a linguagem local de onde os conteúdos foram gravados.
“Como cada quebrada é diferente, naturalmente cada uma tem seus dialetos. Aqui em Porto Velho, por exemplo, tem [a expressão] ‘maceta’ que significa ‘algo grande’. Pra mim em São Paulo isso é outra coisa. Então o que a gente faz? Constrói um roteiro com especialistas do assunto em cada cidade para ter os dialetos locais”, explicou Ronald.
Gabão e Mano Ronald, responsáveis pela pesquisa e desenvolvimento do projeto New School
Ana Kézia Gomes/g1
‘O corre é pelo acesso à educação’
O projeto, chamado de New School, começou a ser pensado por João Paulo Malara, em 2014, após a morte do irmão mais novo, Gabriel.
“Quando a gente perde uma pessoa na quebrada a gente se pergunta ‘porquê?’. Tem uma frase do Nelson Mandela que diz que ‘a educação é a arma mais forte para mudar o mundo’. Então New School nasce como um movimento educacional para mostrar para o jovem que tem como sonhar. Esse movimento nasce como uma solução para esse problema da falta de acesso à educação e às oportunidades”, comentou Gabriel Alves Ribeiro, conhecido como Gabão. Ele também está em Rondônia para a gravação da série.
Por mais que sejam favelas, periferias e quebradas diferentes em São Paulo, no Rio de Janeiro ou em Rondônia, os pesquisadores apontam um problema comum em todos os lugares: a falta de acesso à educação igualitária para todos — que ainda é uma realidade no Brasil.
“Então nosso trampo no fim do dia é conseguir trazer uma linguagem simples e acessível porque a gente acredita que a educação tem que chegar com qualidade para todas as favelas do país. É isso que vai mudar o jogo. Isso vai mudar nossa realidade. Isso que vai possibilitar que o favelado tenha mobilidade social, não só com subempregos. Existe um bom futuro e ele está vindo”, disse Ronald.
Bastidores da gravação da série em Rondônia
Casaquatro/Reprodução
Segunda vez na Região Norte
Gabão também comentou que essa é a segunda vez do projeto na Amazônia. A primeira temporada foi gravada em Manaus (AM). Para ter referência à região, a série ganhou o nome de Quatipuru — o menor esquilo do Brasil que é encontrado em áreas restritas da Floresta Amazônica. Adiante a ideia é gravar em outros pontos da amazônia legal brasileira.
“Mas na série Quatipuru a gente não vai só falar da floresta e do estereótipo que ela tem. Aqui em Rondônia estamos falando de quatro temas: pessoas, rios e suas possibilidades, floresta e desmatamento, energia e infraestrutura. A gente quer ouvir e entender a visão das pessoas que estão aqui e levar a realidade daqui pra fora”, disse Ronald.
Para eles, entre os episódios da série, o tema mais difícil de traduzir foi energia e infraestrutura. Para entender a parte técnica foram consultados, por exemplo, especialistas da Santo Antônio Energia. Além mostrar como esse tipo de empreendimento funciona na Amazônia, a série quer explicar como a tecnologia evoluiu ao longo dos anos.
“Existe no imaginário das pessoas, de uma maneira geral, que os projetos grandes de infraestrutura são inacessíveis, mas a nossa intenção em ajudar o New School é desmistificar isso. É trazer [os termos técnicos] para uma realidade do dia a dia. Mostrar que as coisas que são produzidas aqui esbarram no cotidiano: é o celular que ligamos na tomada no fim do dia, o computador, a televisão”, Maurício Vasconcelos, coordenador de comunicação da Santo Antônio Energia.
New School nasceu dentro da favela para ajudar na educação de crianças e jovens da periferia.
Ana Kézia Gomes/g1

Fonte: G1 Rondônia

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