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Rondônia, sexta, 29 de março de 2024.

Exame

IA vs compradores: quem é mais eficiente na gestão de fornecedores?


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“Alexa, acende a luz da sala.” “Siri, liga para meu irmão”.

Há alguns anos venho acompanhando a evolução das aplicações de Inteligência Artificial (IA) e refletindo o quanto a inovação tem modificado – e ainda deve continuar mudando – nosso comportamento enquanto consumidores. Nos últimos anos, a discussão entrou mais forte também no universo corporativo, e o setor comercial, que me interessa seguir muito de perto, foi atingido também.

Recentemente, por conta do ChatGPT – modelo de chatbot com inteligência artificial generativa desenvolvido pela OpenAI, que deve ser integrada em breve pela Microsoft ao seu mecanismo de busca, dispararam as discussões sobre como essa tecnologia impactará, além de nossas vidas cotidianas, as relações de trabalho.

Estima-se que a Microsoft já tenha investido cerca de US$ 10 bilhões para contar com a tecnologia da OpenAI, a fim de fazer frente ao produto rival do Google – que teve uma estréia vexatória, mas nasce com toda a experiência de duas décadas do buscador mais bem sucedido da história. E essa aposta começou há quase 4 anos, quando a startup co-fundada por Musk ainda estava em desenvolvimento.

O buzz em volta da IA não é novo. Vem desde que empresas de diferentes segmentos começaram a usar a inteligência artificial para automatizar tarefas repetitivas em busca de tornar os processos mais eficientes.

Mesmo em setores onde o relacionamento entre as pessoas é um dos fatores-chave para o sucesso dos negócios, como na área de Compras e gestão de fornecedores, a inteligência artificial está sendo integrada com objetivo de oferecer agilidade e segurança, em forma de soluções que prometem menor índice de falhas. Processos mais precisos e velozes têm o poder de fortalecer a relação de confiança entre comprador e fornecedor, ampliando, como consequência, a credibilidade da empresa.

De acordo com tendências de tecnologia de compras, a inteligência artificial aparece entre as inovações mais procuradas por organizações que desejam garantir processos mais sustentáveis e resilientes ao risco. Além de permitir um controle maior de gastos, a IA pode ser programada para operar garantindo as boas práticas do compliance e o respeito às políticas ESG.

A dúvida subjacente a essa discussão é: será que uma máquina consegue ser tão mais eficiente e precisa do que uma pessoa a ponto de tornar o colaborador humano dispensável?

Façamos um exercício de raciocínio. Independentemente da sua área de atuação, você consegue imaginar uma ferramenta de IA substituindo os profissionais responsáveis pela seleção, análise e escolha de fornecedores?

Será que compras, assim como muitos outros setores, será totalmente automatizado e provido de uma inteligência que vai além de buscar informações de bancos de dados diversos, de uma forma bem mais rápida e precisa do que qualquer ser humano?

Tenho minhas dúvidas. Porque está cada vez mais claro para as empresas que os melhores recursos humanos são aqueles com skills técnicos e comportamentais. E, nessa linha, me pego pensando sobre as principais habilidades dos compradores que precisariam ser aprendidas pelas máquinas, para que elas possam ter as mesmas competências dos profissionais que exercem essa função hoje. E, como se sairiam os compradores-robôs em uma negociação mais complexa? Seria possível a IA emular a capacidade negocial humana, o jogo de cintura por vezes tão determinante no fechamento de uma transação?

Inteligência artificial promovendo a inteligência humana

Quando começa o assunto de IA, parece que estamos prestes a interagir nos escritórios com uma Maeve, a replicante revolucionária da série Westworld, da HBO, ou da sinistra Ava, de Instinto Artificial, da Netflix. Mas a verdade é que a ciência está longe de atingir um ponto em que podemos produzir robôs com autonomia e inteligência humanas de modo generalista.

Sim, porque, embora tenham em comum atender a algoritmos, os objetivos são diferentes. O ChatGPT, por exemplo, se enquadra em um modelo de Processamento de Linguagem Natural. Existem os algoritmos de aprendizado de máquina, o Machine Learning. Também estão em franco desenvolvimento os modelos que comandam robôs de automação de processos. No fundo, chamamos de IA qualquer algoritmo que nos retorne um comportamento ‘inteligente’.

Quando uma ferramenta como ChatGPT funciona para responder dúvidas, estamos lidando com um tipo de IA ‘estreita’, ou reativa. Digamos que é uma nova geração do chatbot.

Mas afinal, onde as ferramentas de IA e sistemas avançados de workflow podem ajudar na área de compras?

  • Tomar decisões melhores – ferramentas que possam fornecer análises sofisticadas e insights baseados em dados para decidir a respeito do fornecedor ideal naquele caso.
  • Identificar novas oportunidades – a capacidade de percorrer vastas quantidades de dados torna mais fácil descobrir novas oportunidades de receita e de economia.
  • Melhorar a operação – ao alinhar ou aperfeiçoar processos internos mesmo em grandes corporações com unidades espalhadas pelo mundo.
  • Automatizar tarefas manuais – sim, elas existem e consomem tempo, como relatórios de performance mensais.
  • Economizar tempo – ao realizar as tarefas rotineiras, as pessoas podem se dedicar mais a estratégia e o gerenciamento de relacionamentos com clientes-chave.
  • Obter conhecimento – IA pode ajudar as equipes a encontrarem novas fontes de dados, inclusive na internet.
  • Identificar novos fornecedores ou mercados – com acesso a dados externos à organização, é possível enxergar novas oportunidades e parceiros.
  • Melhorar o relacionamento com fornecedores – IA pode fornecer para ambos os lados informações baseadas em dados mais sólidos.

A IA, que realiza não apenas tarefas repetitivas, mas também usa experiências passadas para demandas de análise e tomada de decisão futura, a partir de processos cognitivos, ainda deve demorar uns bons anos para se estabelecer no mercado. Hoje, a maioria das organizações no Brasil utilizam Inteligência Artificial reativa, ou seja, automação mecânica, que tem seus recursos limitados a comandos pré-programados.

O fato é que ferramentas de IA crescem exponencialmente ainda que o ritmo varie entre as regiões. Enquanto a União Europeia se prepara para regular a tecnologia por meio da sua própria lei de inteligência artificial, no Brasil temos previsão que o Marco Regulatório da IA seja aprovado ainda em 2023.

Inteligência artificial como parte da solução

É inegável o potencial transformador da IA para os negócios, por todo valor gerado, desde a celeridade nos processos até o aumento de produtividade das equipes. No entanto, há uma boa razão que me faz acreditar que a inteligência artificial generativa deve SIM substituir ao menos parte dos profissionais do setor de Compras, mas NÃO agora.

Entre ferramentas de IA e compradores humanos profissionais, escolho os dois. Cada vez mais me convenço de que a transformação suportada por inovação, dados, pessoas e gestão inteligente é o que eleva o nível da área de Compras, potencializando os ganhos em todas as etapas da cadeia.

Unir as duas forças é alcançar resultados melhores. Ao efetivar o uso da IA, compradores só têm a ganhar, uma vez que ter a inteligência artificial como aliada fortalece, agrega valor, mas, por enquanto, não substitui.

A cultura de dados vem revolucionando o setor de Compras e Gestão de Fornecedores, e a mudança é para melhor! Se o mercado caminha nessa direção, por que fechar os olhos para a evolução das novas tecnologias? Talvez esse seja um erro que um humano cometeria, mas não uma IA. E ele custaria caro.

*Bruno Beneduzzi é diretor comercial da CIAL Dun & Bradstreet

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