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Rondônia, sábado, 20 de abril de 2024.

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Alunos com Ensino Superior passam melhor pela crise, mostra estudo


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Alunos formados no ensino superior nos últimos anos têm conseguido melhor colocação no mercado de trabalho e maiores salários – mesmo em meio às dificuldades na pandemia.

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A conclusão é de pesquisa feita com mais de 8.500 alunos e ex-alunos pelo Instituto Semesp, da associação de mantenedoras do ensino superior, em parceria com a consultoria de mercado de trabalho Symplicity e apoio das empresas de recursos humanos Cia de Talentos e InfoJobs.

Dentre os formados que responderam ao questionário, em instituições públicas e privadas, 82% disseram ter obtido melhorias após a graduação, como melhores salários, promoção, efetivação após um estágio ou obtenção do primeiro emprego.

O impacto da crise, como esperado, foi maior para a geração que se formou nos últimos três anos. Ao todo, 64% dos egressos que ainda não conseguiram o primeiro emprego se formaram entre 2019 e 2021, diretamente impactados pelos anos de pandemia.

Ainda assim, mais de 70% dos formados, dos mais antigos aos mais novos, estão atualmente trabalhando.

A pesquisa teve respostas dos alunos por meio de questionários online. Os respondentes são de 194 escolas de ensino superior em todo o Brasil, sendo 98% de instituições privadas.

Os números do Semesp corroboram resultados mais amplos vistos na última Pnad trimestral, do IBGE. No segundo trimestre deste ano, 72% dos brasileiros com ensino superior estavam trabalhando, ante 59% dos que tinham somente o ensino médio.

A taxa de desocupação medida na Pnad, que leva em conta os brasileiros que estão efetivamente procurando emprego, também foi menor entre os formados no ensino superior, de 7,5%, contra 16,4% entre os com ensino médio.

A empregabilidade neste grupo se refletiu em melhores salários. No grupo ouvido pelo Semesp, mais de 50% dos egressos de faculdades privadas e 60% das públicas ganhava 3.000 reais ou mais – com fatia maior nas públicas ganhando entre 5.000 e 10.000 reais.

O rendimento médio do trabalhador brasileiro no trimestre até agosto foi de pouco menos de 2.500 reais, segundo a Pnad/IBGE. Dos brasileiros formados só no ensino médio e que atualmente trabalham, a fatia é de 12% com salário acima dos 3.000 reais. 

A associação positiva entre anos de estudo e salário é histórica no Brasil, uma vez que só um quarto dos jovens entre 18 e 24 anos cursa o ensino superior. O Education at a Glance, tradicional relatório da OCDE, organização com alguns dos principais países desenvolvidos, apontava pré-pandemia que um graduado no Brasil ganha, na média, o dobro do que os formados no ensino médio.

Engenheiros fora de área

Essa relativa estabilidade no mercado de trabalho, na comparação com os menos escolarizados, explica em grande parte os motivos que fazem o ensino superior seguir sendo um atrativo passaporte de ascensão social no Brasil.

Apesar dos (muitos) percalços, quando instados a responder “com base em sua experiência” nos cursos, oito em cada dez alunos concordaram na pesquisa da Semesp que o ensino superior “garante maior empregabilidade”.

Não significa, é claro, que a situação para os formados é totalmente confortável. Desde antes da pandemia, o Brasil convive com taxas crescentes de desemprego em todos os grupos socioeconômicos, e chegou ao ápice de ter metade da população ativa sem trabalhar em 2020. A alternância entre momentos de recessão e crescimento quase nulo desde 2015 também atrapalha a criação de vagas para os trabalhadores qualificados.

O número de respondentes trabalhando na pesquisa da Semesp, por exemplo, cai de 70% para cerca de 50% entre os que dizem trabalhar especificamente em sua área de formação. Com a crise, muitos jovens têm relatado trabalhar em ocupações que exigem nível de instrução inferior à formação.

“E principalmente quando temos desemprego alto, há esse velho problema de exigir experiência, que o aluno egresso nem sempre tem”, diz Rodrigo Capelato, diretor-executivo da Semesp, em coletiva de imprensa sobre os resultados.

Sala de aula: dificuldade em fazer estágios e ganhar experiência é um entrave aos alunos mais pobresIPGGutenbergUKLtd/Thinkstock

Outro destaque para os organizadores foi o alto número de engenheiros de diversas áreas que trabalham, por falta de oportunidade, em um setor diferente da formação (caso de quase 30% dos respondentes de engenharia química, ambiental e de produção).

Por outro lado, Capelato nota que a empregabilidade entre os respondentes é alta nos cursos ligados à saúde e tecnologia: 100% em medicina disseram trabalhar na área de formação, além de mais de 90% em ciência da computação e engenharia da computação e quase 80% em farmácia e odontologia.

Matrículas estagnadas 

O Brasil deu um salto em número de alunos cursando o ensino superior desde os anos 2000, com ampliação das vagas em universidades públicas, programas de bolsa em instituições privadas (via Prouni) e de financiamento (via Fies).

O número de matrículas subiu mais de 40% desde 2009 e superou 8,6 milhões em 2019, data do último Censo da Educação Superior divulgado pelo Inep, autarquia do Ministério da Educação.

Apesar dessa movimentação, devido ao investimento tardio no acesso à educação, o Brasil ainda tem número muito baixo de alunos com ensino superior na comparação com outros países.

Entre os adultos de 25 a 34 anos, só 21% dos brasileiros concluíram esta etapa. A taxa é inferior à de países latino-americanos como México, Colômbia, Chile e Argentina (esta última tem 40% dos adultos nessa faixa etária graduados). Nos países europeus e nos EUA, o número fica acima de 40% ou 50%.

Além disso, na prática, o Brasil vive redução de matrículas presenciais no ensino superior desde 2014. A movimentação é resultado da redução nos tamanhos de Fies e Prouni, queda no orçamento das faculdades públicas e impacto das sucessivas crises na renda das famílias.

As instituições privadas defendem há anos um retorno da expansão do Fies, programa de financiamento estudantil a juros subsidiados que ajudou no aumento das matrículas no Brasil – mas sofreu críticas pela falta de critério na distribuição dos financiamentos e alta inadimplência.

Os desafios do EaD

Hoje, o crescimento agregado no ensino superior brasileiro vem sobretudo do aumento em vagas de educação à distância em instituições privadas, que têm atraído alunos com mensalidades mais baratas, apesar do Fies menor.

O perfil socioeconômico de alunos atendidos também é mais diverso. Segundo o Semesp, estão matriculados nos cursos totalmente à distância muitos alunos mais velhos (acima dos 30 anos) e de renda mais baixa; mais de 73% nessa modalidade já trabalhavam antes de ingressar na graduação, ante menos de 50% dos alunos presenciais.

Embora todas as faculdades tenham tido de oferecer aulas online com a pandemia, há desafios para muito além da tecnologia que afetam esses cursos.

Como a maioria dos alunos trabalha fora da área de formação e não pode abrir mão de renda para fazer estágios, o cenário dificulta a obtenção de experiência. A busca por mais atividades práticas e auxílio em vagas de estágio está entre as maiores demandas dos estudantes, segundo a pesquisa.

Alunos responderam que parte das faculdades vêm implementando programas como feiras de estágio, orientação para carreira e currículos e networking. Ainda assim, nos cursos EaD, quase 80% dos alunos ainda não havia feito estágio até a data da pesquisa, ante 65% no presencial. 

Já as atividades extracurriculares nas faculdades, como empresas júniores e entidades estudantis – marca registrada das universidades de excelência –, se mostram quase inexistentes. Só 1,3% dos entrevistados de cursos à distância e 5,3% dos presenciais privados disseram que a instituição abriga uma empresa júnior.

Essa falta de experiência na área pode, no futuro dos alunos, se tornar uma barreira extra na empregabilidade.

Capelato, do Semesp, concorda que este é um desafio com o qual as instituições precisarão lidar em um mercado de trabalho concorrido, fazendo com que os momentos presenciais dos alunos tenham atividades práticas e mais relevantes do que somente as aulas teóricas.

Para além do financiamento geral, Capelato argumenta que poderiam ser feitas políticas de financiamento, nos cursos presenciais e à distância, focalizados na formação em áreas prioritárias e de alta demanda, como saúde, tecnologia e licenciaturas.

“Há ainda um desemprego bastante grande entre os formados. O país poderia aproveitá-los muito melhor, incentivando os que queiram se formar em áreas estratégicas“, diz. “Seria possível equalizar melhor e atender ao mercado de trabalho.”

Os desafios e demandas para o ensino superior do século 21 são grandes. Mas tudo somado, o Brasil precisa garantir – sobretudo aos alunos mais pobres historicamente excluídos desse processo – o acesso à formação e, uma vez matriculados, a boas oportunidades. A diferença na folha de pagamento ainda vale a pena na maior parte dos casos.

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Fonte: Revista Exame

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