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Rondônia, quinta, 28 de março de 2024.

Exame

Intoxicada por cloroquina, CPI vira jogo sem vencedores


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Por Márcio de Freitas*

O depoimento da médica Nise Yamaguchi na Comissão Parlamentar de Inquérito da Pandemia não foi bom para a classe médica. Foi confuso, truncado, com informações vencidas. Nem a linha de pesquisadores alinhados ao chamado tratamento precoce ficou bem. Mas os senadores parecem querer ser derrotados pela postura, ou falta dela.

Autoritários, impacientes, deseducados, grosseiros, arrogantes, vários senadores se sucedem sem deixar as testemunhas formularem um pensamento inteiro, nem mesmo os colegas. E sobra bate-boca. Cobram objetividade sem ter um grama para consumo próprio.

Os inquisidores não parecem querer respostas, querem concordâncias e auto-incriminações, que de resto não surgem se as pessoas não se soltam, nem falam o bastante para deixar escapar algo fora do ensaio. Falta aquela impostura de um João Alves ao confessar que ganhou mais de cem vezes na loteria para ficar rico…

É uma forma de debate eleitoral acentuado que contamina a CPI. E com traço de radicalismo que espelha as acusações que os opositores fazem ao presidente Jair Bolsonaro. No reflexo, a diferença confunde a audiência pela semelhança.

A médica defendeu o tratamento precoce, com as informações da época, negou o gabinete paralelo, defendeu a cloroquina como milhares de médicos defenderam… E ficou frente a frente com suas próprias declarações no passado, nos vídeos exibidos pelo senador Renan Calheiros para desmontar o depoimento de Nise. Ela explicou: era ela mesma e suas circunstâncias naqueles momentos – para desespero dos admiradores da Ortega & Gasset. Preservou o presidente Bolsonaro e buscou se escudar em seu currículo.

Mais um dia da CPI, mais um pouco do mesmo. Tanto que eles já querem mudar o roteiro de depoimentos para fugir da intoxicação por cloroquina.

*Márcio de Freitas é analista político da FSB Comunicação

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Fonte: Revista Exame

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