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Rondônia, sexta, 29 de março de 2024.

Exame

Porque (e como) as pequenas e médias empresas devem olhar para o ESG


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Roseli Nogueira Machado e Paulo Dalla Nora Macedo*

Com o crescente debate em torno do ESG (Governança Ambiental, Social e Corporativa), impulsionado pelos grandes fundos de investimentos, abrem-se oportunidades para que empresas, independente do porte e subsegmento, sejam protagonistas da transformação.

Para isso, é claro que o ESG pode e precisa ir para além das fronteiras das grandes organizações, estimulando os médios e pequenos empresários a também olharem para a governança de seus negócios, avaliando o risco e os danos que causam, ou podem vir a causar, aos demais ecossistemas.

Estimula-se, ainda, a reflexão sobre como os seus negócios podem impactar e ser impactados por diversos eventos advindos de cenários incertos, mas prováveis.

Pequenas e médias empresas precisam entender que olhar sob a lupa ESG pode atrair investidores e investimentos, novos clientes no âmbito nacional e internacional e profissionais conectados, com o objetivo de fazer com que essas empresas e seus negócios sejam positivamente relevantes para o Brasil.

No fim das contas, é o que faz uma empresa ter sustentabilidade, no sentido de ser perene em seus negócios.

As grandes empresas precisam motivar e, até mesmo, ajudar os seus pequenos e médios fornecedores e clientes, na descoberta e adesão à agenda sustentável. Quanto mais for sustentável o seu ecossistema, mais sustentável será o seu próprio negócio.

Bancos e instituições financeiras, por exemplo, precisam expandir linhas objetivamente vinculadas aos critérios ESG para este público, em uma matriz de transição, com crédito atrelado à implantação de processos, que ajudem as empresas a manterem os seus negócios saudáveis, em cenários que exigem grande resiliência.

A pandemia revelou a fragilidade das empresas — grandes e pequenas — em relação à sustentabilidade de seus negócios. Mostrou que muitas delas estabeleceram negócios sem pensar num cenário de longo prazo, e sem uma análise de risco incluída no processo de tomada de decisão de seus investimentos.

Em larguíssima escala, foi isso que permitiu que o covid-19 virasse uma pandemia, com consequências econômicas globalmente devastadoras: sucumbimos às cadeias produtivas picotadas pelo mundo, tendo apenas o custo como a consideração preponderante.

Não se considerou o risco de quebra dessa cadeia e, em outra frente, a “pandemia do clima” que se forma, não considerando o quanto de CO2 a mais essa dispersão geográfica significa. Quando a engrenagem parou, o choque foi sentido em proporções épicas.

De acordo com dados do Sebrae, em 2020, 1,4 milhão de empresas foram fechadas no país, e efeitos negativos foram percebidos por 70,1% das empresas de pequeno porte, 66,1% das de médio porte e 69,7% das de grande porte. Entre os setores, essa percepção de impacto negativo foi de 74,4% entre as empresas de serviços, 72,9% da indústria, 72,6% da construção e 65,3% do comércio.

Não se trata apenas de uma questão microeconômica. A falta de visão de sustentabilidade no Brasil acabou por agravar o impacto da pandemia nos negócios.

A crise gerada pela pandemia colocou em xeque a sustentabilidade do nosso sistema econômico e evidenciou o nosso total despreparo para absorver choques sistêmicos.

A devastação de vidas pelo covid-19 e suas consequências ramificadas mostraram, claramente, a falta de governança do setor público em relação a uma agenda consistente, que garantisse segurança econômica para os cidadãos mais vulneráveis, e um mínimo de sustentabilidade para os pequenos e médios negócios.

Essa agenda deveria ser permanente, pensando em avaliação de risco e em cenários incertos, na tentativa de mitigar os danos que tais cenários podem trazer para a economia do país e de sua gente.

Reforma tributária e a atualização da legislação que reflita os dias de hoje e incentive a inovação, certamente, são elementos fundamentais para ajudar na modernização do nosso setor produtivo.
Mas isso apenas não bastará.

A crise desencadeada pela pandemia deixou claro, também, que as empresas brasileiras precisam se transformar, buscar inovação pelo olhar da sustentabilidade, como uma necessidade para a continuidade dos seus negócios. Outras crises sistêmicas virão, como o choque climático — já em andamento.

*Roseli Nogueira Machado é líder do Comitê de Sustentabilidade do Grupo Mulheres do Brasil; Paulo Dalla Nora Macedo é conomista e empreendedor.

Fonte: Revista Exame

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