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Rondônia, quinta, 25 de abril de 2024.

G1

Após encontrar família em Rondônia, mulher sequestrada quando bebê diz que lutará por justiça


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Vítima mora em Mutum-Paraná (RO) e procurou a polícia para denunciar o próprio sequestro após confirmação de exame de DNA. Mãe biológica da vítima pode ter desenvolvido depressão após a criança ter sido raptada do berço na década de 1980 em Ariquemes (RO). Neuza tira foto com mãe biológica, Ester.
Arquivo pessoal
Neuza de Jesus Oliveira, de 36 anos, é a mulher que procurou a polícia em Mutum-Paraná (RO), distriro de Porto Velho, para registrar uma ocorrência sobre o próprio sequestro. Ela contou, com exclusividade ao G1, como localizou a família em Alto Paraíso (RO), após mais de três décadas e como foi o encontro com a mãe biológica. Para a vítima foi a “mãe adotiva” quem a raptou quando ela ainda era um bebê.
“Quando eu tinha sete ou oito anos a dona Maria [mãe adotiva] me chamou e disse que meu pai biológico pediu para ela ficar comigo, já que ele não tinha condições de me manter, pois tinha meus dois irmãos mais velhos. Ela dizia que o meu pai adotivo só ficaria comigo se fosse “de papel passado”, então me registraram. Ela também falava que minha mãe verdadeira era falecida”, lembra.
Com o passar o tempo, Neuza diz que sentia que algo estava fora do lugar na vida dela. Mesmo com o carinho recebido da família “adotiva” a curiosidade para saber sobre sua origem aumentava a cada momento.
“Quando tinha 12 anos perguntei para minha mãe [adotiva] como meus pais biológicos chamavam. Ela disse: Ester e Sebastião. Perguntei também os nomes dos meus irmãos e ela me respondeu: “você tem um irmão mais velho chamado Célio e o do meio Dione”. Nisso, fiquei encasquetada com a história e me indagava: poxa meu pai me deu, mas ao mesmo tempo me consolava por ele não ter me jogado na rua”, lembra.
Em setembro deste ano, Neuza, fez uma postagem em uma página do Facebook sobre filhos adotivos que procuram as mães biológicas. E um internauta respondeu.
No comentário a pessoa disse que conhecia os irmãos da vítima e que eles moravam em Alto Paraíso (RO), distante cerca de 283,7 km de Mutum-Paraná. Ainda escreveu que a mãe biológica dela não era falecida e inclusive sofria de depressão devido ao desaparecimento de uma filha há mais de 30 anos.
“Ela respondeu dizendo que em Alto Paraíso tem uma senhora que conheceu a minha mãe e meus irmão há 25 anos. Essa moça entrou em contato comigo no particular e perguntou os nomes dos meus irmãos. Eu só tinha o primeiro nome, mas falei. Ela me revelou que minha mãe não estava morta. Desse dia pra cá minha vida mudou”, revela.
Neuza localizou a família biológica depois de comentar em uma postagem no Facebook
Reprodução/Facebook
Por telefone, o suposto irmão biológico, Célio, entrou em contato com Neuza. Enquanto conversavam, a vítima conta que ele questionava e negava acreditar na versão de que ela havia sido adotada. Célio falou para Neuza que no dia do desaparecimento dela a mãe deles havia acabado de amamentá-la e a deixou no berço. Depois saiu, fechou a porta da casa e foi até a residência da avó materna da vítima. Quando retornou, a casa da família estava aberta e a bebê havia sumido.
“Ele me questionou e disse: “quem te falou que você é adotada?”. Contei minha história e disse a ele que era registrada. Ele me disse que o meu registro de nascimento estava na casa da nossa mãe. Ele me enviou as fotos”.
Com a informação dos documentos do registro enviado pelo suposto irmão, Neuza entrou em contato com o cartório da cidade e pediu a relação com os nomes filhos da Ester, suposta mãe biológica. Foi confirmado que dona Ester tem três filhos, sendo dois no sexo masculino, o primeiro Célio e o Dione e a terceira, do sexo feminino, com o nome de Diná.
Confronto com a mãe adotiva
Abalada com a possibilidade de ter descoberto uma parte da vida, Neuza, de imediato, entrou em contato com a mãe “adotiva” e a questionou sobre como ela havia sido adotada.
“Ela me contou toda a história de novo. Perguntei se eu já era registrada, ela disse que não e ainda falou que minha mãe era analfabeta. Respondi que o fato dela ser analfabeta, não era o motivo de não ter sido registrada e já falei que tinha achado meu irmão. Ela ficou toda feliz. Então eu disse: “mãe eu tenho uma bomba pra senhora, minha mãe verdadeira não está morta!”. Ela ficou transtornada pelo telefone e começou a me dizer que minha mãe era morta”, conta.
Neuza comenta que havia agendado para fazer o exame de DNA em Alto Paraíso (RO), onde a mãe biológica mora com um irmão, e contou isso para a mãe “adotiva”, a idosa não a respondeu mais.
“Falei com ela num sábado e disse que iria fazer o exame de DNA na terça-feira. Quando foi na quinta-feira, a dona Maria [mãe adotiva] se mudou e não tive mais notícias dela. Ela me bloqueou no WhatsApp”.
Diante da situação, Neuza, saiu de Mutum Paraná e foi à Alto Paraíso para conhecer as pessoas que poderiam ser a família biológica dela e fazer o exame de DNA.
Teste de DNA deu positivo, segundo Neuza
Arquivo Pessoal
“O encontro com minha mãe verdadeira foi bem difícil, pois ela não está lúcida. Você sabe o que é abraçar sua própria mãe e não ter resposta? Ela com 62 anos, teve problema psicológico, sofreu de depressão. Hoje tem um quadro de esquizofrenia”, desabafa Neuza.
O exame de DNA deu positivo. E após o resultado Neuza levou a filha caçula de cinco anos para conhecer a avó. Ela conta que esse foi o único momento que conseguiu ver emoção na mãe doente.
“Minha mãe olhou pra mim e encheu os olhos de lágrimas. Minha filha e ela se parecem muito. Mas ela não me reconheceu e não disse nada. Meu irmão me disse que ela não reconhece quase ninguém”.
Célio, irmão mais velho de Neuza, dona Ester, mãe biológica e Neuza
Arquivo pessoal
Diante do não reconhecimento por parte da mãe biológica, Neuza diz ter se sentido injustiçada por ser sido levada pela outra mulher.
“Não sei o que vai dar, mas vou entrar na justiça para cobrar os meus direitos e os direitos da minha mãe”, desabafa.
Na primeira certidão de nascimento, Neuza, que foi registrada pela Ester como Diná Rodrigues Campos, o documento mostra que ela nasceu em 1983. Já no registrado pela família adotiva mostra que ela nasceu em 1984.
Sobre o sumiço da “mãe adotiva”, Neuza mostra indignação por não ter a resposta sobre o que pode ter motivado o possível rapto quando ela era um bebê.
“Queria que ela falasse o por quê que ela fez isso. Queria que ela me pedisse perdão por ter me roubado da minha mãe. Minha magoa é muito grande. Meu irmão disse que no dia em que sumi minha mãe, Ester, tinha me amamentado e me colocado no berço pra dormir. Nisso dona Ester e o Célio foram na casa da vó, quando eles voltaram, não me acharam mais. A porta estava aberta. Nunca mais a Diná, pra eles apareceu. Eu perdi duas mães. Uma, tenho que tentar recuperar o que nos foi tirado. A outra, sumiu”, conta.
Opiniões contrárias
Neuza diz não ter recebido o apoio que esperava de alguns amigos. Pois eles, segundo ela, não concordam com a ação de entrar na justiça contra a suposta raptora.
“Eu fico apavorada porque as pessoas tem me condenado. Amigos e colegas de trabalho falam: “poxa Neuza, você vai brigar na justiça com a família que te criou?” E ainda dizem: “Mesmo que sua mãe tenha te raptado, te roubado, sei lá… ela que te criou”. Eu respondo que vou! Porque hoje tem uma senhora que chorou, passa por depressão, problemas psicológicos e hoje sofre de esquizofrenia. Isso tudo, por causa da filha que foi levada embora”, desabafa.
Em Mutum Paraná, distrito de Porto Velho, com o resultado do teste de DNA e com as duas certidões de nascimento, Neuza registrou um boletim do ocorrência. O documento foi registrado com a natureza de sequestro/cárcere privado. O caso é investigado. Neuza, também, agendou um horário na Defensoria Pública, onde dará entrada nos processos.
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Fonte: G1 Rondônia

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