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Rondônia, quinta, 18 de abril de 2024.

G1

Profissionais da saúde em Porto Velho contam como ter Covid-19 mudou a forma de encarar o trabalho e a vida


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Mais de 2,6 mil servidores de saúde foram diagnosticados com Covid-19 no estado até o dia 17 de julho. “Medo é constante de pegar a doença em atendimento e passar para família”, diz médico. Mais de 2,6 mil profissionais da saúde testaram positivo para Covid-19 em Rondônia
Tarso Sarraf/Estadão Conteúdo
A pandemia do novo coronavírus provocou uma rápida ocupação dos hospitais em Rondônia por pacientes contaminados com a doença, entre eles, profissionais de saúde. Em mais de 2,6 mil casos, os papéis foram invertidos e quem estava atuando no combate ao vírus acabou precisando de cuidados. Duas técnicas em enfermagem e um médico que contraíram a doença contaram ao G1 como foi o período de isolamento e como está sendo a rotina de volta ao trabalho.
Segundo dados divulgados pela Agência Estadual de Vigilância em Saúde (Agevisa) e a Secretaria de Estado da Saúde (Sesau), até a última sexta-feira (17) haviam sido confirmados mais de 29 mil casos em todo o estado, sendo cerca de 9,2% dos casos, o equivalente a 2.689 diagnósticos, entre profissionais de saúde.
A técnica em enfermagem Dáleth Alves foi uma entre os mais de 2,6 mil profissionais da saúde contaminados pelo vírus. Ela descobriu a doença depois de sentir falta de ar e ardor nasal enquanto pedalava a caminho do trabalho. Um médico e colega de serviço solicitou uma tomografia e a encaminhou a uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA).
Mesmo sem sintomas graves, a técnica ficou afastada por 14 dias. “Medo não tive, tive um pouco de temor porque a gente vê a situação que está acontecendo. A minha vontade era de trabalhar nessa frente, ajudar as pessoas que estavam positivas, ser um canal de ajuda”, afirmou.
Durante o isolamento, Dáleth contou que, para diminuir a preocupação, começou a cuidar de si. Iniciou a leitura de um livro, plantou, estudou e procurou se exercitar. Após estar recuperada, informou que voltou ao trabalho com um novo olhar para os pacientes. Como agora conhece bem os sintomas, consegue alertar a equipe sobre pacientes que apresentam indícios de Covid-19.
Dáleth Alves, técnica em enfermagem
Dáleth Alves/Arquivo pessoal
Gianne Priscila, de 49 anos, atua como técnica em enfermagem há 11 anos na rede pública de saúde de Porto Velho. A profissional conta que viveu uma experiência intensa ao contrair o novo coronavírus. Após passar 6 dias internada com dificuldades respiratórias, Gianne disse ter se sentido impotente e sem controle da própria vida.
“Cheguei a mandar mensagens de despedida para a minha família e amigos. Nada o que nos foi instruído, nada o que nos foi avisado nos deixou preparados para enfrentar esse tipo de coisa, para enfrentar a proporção catastrófica do que está acontecendo”, relatou.
Mesmo depois de 40 dias do diagnóstico, a técnica ainda sente vestígios da doença, como dor nas costas e dificuldade em respirar ao usar máscara por muito tempo durante o plantão. Gianne contou também que não se sentiu preparada para voltar ao trabalho por causa dos sintomas que ainda sente e por estar com o psicológico abalado após a situação que viveu.
Técnica em enfermagem, Gianne Priscila
Gianne Priscila/Arquivo pessoal
Já para o médico Carlos Augusto, de 30 anos, os problemas causados pela doença foram muito mais psicológicos do que físicos. O profissional trabalha na ala de emergência do hospital João Paulo II e também na rede privada, e conta que pelo menos metade dos colegas de trabalho já contraíram a Covid-19.
“Apesar de todos os cuidados, já peguei a doença. Tive sintomas leves, mas imaginava se ia sobreviver”, disse.
Para Carlos, a maior dificuldade foi precisar se afastar da família durante a doença, mas conta que após a recuperação, voltou ao trabalho com ainda mais vontade de ajudar os pacientes com Covid-19.
“O medo é constante de pegar a doença em atendimento e passar para minha família. É uma doença que mexeu bastante com o nosso psicológico. Tivemos que nos afastar principalmente dos nossos familiares por estarmos na linha de frente, por sermos vetores da doença”, desabafou. “Depois da recuperação, aumentou minha vontade de estar presente em unidade de terapia intensiva só para pacientes com corona”, afirmou.
Médico Carlos Augusto
Carlos Augusto/Arquivo pessoal
Para dar suporte psicológico a servidores que atuam na linha de frente de combate à Covid-19 em Rondônia, duas linhas telefônicas foram disponibilizadas no projeto “Cuidando de Quem Cuida”. As ligações podem ser feitas para os telefones 0800 642 5398 ou 3901-8504, das 7h às 20h, em dias úteis.
*Estagiária Beatriz Galvão, sob a supervisão de Daniele Lira.

Fonte: G1 Rondônia

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