Exame
O Bem Amado e a crise do coronavírus
– Caro Prefeito, é um prazer recebê-lo e contar com sua experiência e sabedoria em tempos tão difíceis.
– Agradeço e espero justificar a merecedência de tão honroso convite.
– Como o senhor ver a situação atual do país?
– Muito dificultosa.
– É apenas muito azar ou é falta de uma elite do tamanho do país?
– Falar mal da elite é coisa da esquerda badernista, desaforista e subversenta. Além do mais a responsabilidade de construcionismo do país é de todo cidadão.
– Mas a classe política, Prefeito…
– Essa obviamente não é composta de donzelas praticantes mas há maucaratismo talqualmente em todos os poderes.
– O que o senhor acha do Bolsonaro?
– Esse senhor não conta com a adulância da imprensa lida, olhada e escutada. Parece que têm sempre uma visão negativista de tudo que ele faz ou diz. Sou empatiado com ele pois já sofri na pele com implicância parecida.
– Não me parece por acaso, Prefeito.
– O acaso não existe em política, meu jovem.
– Voltando ao assunto, parece que o presidente conta apenas com as redes sociais.
– Pra mim essa coisa de rede social é a acarajeização da política.
– Pode elaborar mais sobre isso?
– Quando existe muito falacionismo e pouco ouvidismo ninguém se entende. Na minha época já dava trabalho calar um jornal apenas.
– Mas a democracia não existe sem uma imprensa livre!
– Isso soa bem, emboramente a vida exija maior meticulância com a realidade.
– Na sua época atribuíam ao senhor a ideia de uma Democratura.
– Essa ideia surgiu em confabulâncias sigelentas mas a conversa vazou e a imprensa publicou. Admito que estava adiante do meu tempo.
– Como seria possível uma Democratura, Prefeito?
– Aquele rapaz americano da empresa da maçã?
– O Steve Jobs?
– Esse mesmo! Ele falava que não acreditava em pesquisa de mercado porque os clientes não sabem o que querem. É preciso o invencionismo se juntar com a inteligência para criar algo trepidante e dinamitoso.
– O senhor está dizendo que o povo não sabe o que quer?
– O povo é pacatista e quer apenas o alimento fermentado de trigo e malabarismos.
– Soa antigo e retrógrado, Prefeito.
– O que é maquiavelento e funciona nunca soa bem quando falado.
– As pesquisas indicam que o senhor tem chances como candidato à presidência em 2022.
– Com a alma lavada e enxaguada recebi o resultado dessa pesquisa mas o meu tempo já passou. O partido precisa de alguém diferente para deixar o país exatamente como está.
– Tudo igual?
– Sim, não corremos o menor risco de dar certo. Somos os americanos ao contrário?
– Como assim.
– Sempre repetimos a mesma fórmula errada esperando um resultado diferente. Ficamos sempre nos entretanto e nunca chegamos aos finalmente.
PS: Esse conto é uma singela homenagem ao grande gênio Dias Gomes, que soube como poucos retratar a alma e o caráter da sociedade brasileira.
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Fonte: Revista Exame