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Rondônia, quinta, 25 de abril de 2024.

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Influenciadores digitais: CPF ou CNPJ?


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Influenciadores digitais: CPF ou CNPJ? A resposta para esta pergunta retórica é simples: ambos.

A internet e as redes sociais ainda parecem um mundo novo a ser explorado. Sim, ainda é. E como todos os pioneiros em suas novas empreitadas, seja lá quais forem, os erros podem ser mais numerosos e maiores do que os acertos.

Com a Gabriela Pugliesi não haveria de ser diferente. A influenciadora digital parece lidar, talvez ser ter consciência disso com clareza com o famoso paradoxo da escolha: quem eu vou ser hoje?

Um celular na mão, dezenas de possibilidades, como se encaixar em um único avatar que mistura tantas expressões de identidade? Para vender, a influenciadora mais parece um market place onde possui um infinidade de estilos de vida, gostos, cenários para encaixar sua curadoria de produtos e serviços. Parece frio e distante né? Mas é.

Estamos tratando de negócios de risco, e mais, business de alto impacto, não só para o CNPJ, mas sobretudo para o CPF. Carregar duas forças de ser/estar no mundo de forma coerente, onde os dois sistemas conversam entre si e devem ter uma mensagem única, sólida e coerente é um trabalho bastante árduo e comprometido.

Na era das empresas com propósito não dá pra errar, ainda mais quando a empresa é a própria pessoa. Os criadores de hoje devem ser no mínimo responsáveis pelas bandeiras que levantam, propósitos que defendem e dialogar com seus consumidores tal como uma grande indústria.

Pode parecer pequeno em um primeiro olhar, mas o canal de contato é bastante poderoso, como um bote do Greenpeace combatendo a mortandade de baleias em pleno oceano. Em comparação a um grande navio pesqueiro ele é bem pequeno, mas a mensagem que carrega é uma avalanche simbólica que pode fazer um barulho imenso.

Ao declarar em plena pandemia de coronavírus “foda-se a vida”, na verdade a influenciadora dava um tiro no próprio pé, perdeu alguns milhares de reais em ações publicitárias e contratos, e manchou a sua imagem no pior momento que isso poderia ter acontecido, quando todos nós estamos voltados para a TV, para as telas dos celulares e dos computadores em plena quarentena.

Mas calma, nem tudo está perdido, como um bom CNPJ, a Pugliese parece estar se movimentando para contornar a crise, de que forma?

1. Apelou para as desculpas, o lado humano do CNPJ neste caso: “as pessoas também erram”, e que precisa se desintoxicar das redes sociais. A lá “Katia Cega” disparou “não está sendo fácil”.

2. Apelou para a mãe, afinal de contas o amor de mãe tudo entende, tudo suporta, tudo perdoa. “Minha filha sempre foi perseguida”

3. Apelou para a contratação de um bom profissional de gestão de crise. Para quem viu a série “Scandal”, vai lembrar da personagem de Kerry Washington, Olivia Pope, pois é, há profissionais que salvam imagens.

Não há garantia que as ações trarão resultado positivo, vamos ter que esperar para ver, mas uma coisa é certa: quando a gente decide ser um profissional da criação de conteúdo nas redes sociais e decidimos usar este canal como forma de ganhar a vida, inspirar pessoas, levantar bandeiras e motivar propósitos você não está sozinho.

Você carrega seus seguidores diretos e indiretos, você envolve sua vida pessoal (CPF) e sua vida profissional (CNPJ) em todas as suas atitudes e escolhas, e isso é uma grande responsabilidade para com ele mesmo e todas as pessoas envolvidas, inclusive as marcas que investem recursos nele.

Talvez seja hora dos influencers digitais começarem a estudar conteúdo sobre liderança e as marcas estudarem melhor seus investimentos no setor, buscar nano ou micro influencers mais engajados e comprometidos, e além disso monitorar, minimamente, os posicionamentos políticos que fazem. É preciso ter coerência. Chega de filtros.


Hilaine Yaccoub é doutora em Antropologia do Consumo. Atua como palestrante, e consultora, realizando estudos que promovem ligação entre o mercado consumidor, o conhecimento acadêmico e as empresas. Para seguir nas redes sociais: @hilaine

Fonte: Revista Exame

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