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Rondônia, quinta, 28 de março de 2024.

Exame

Como o setor de transporte se adaptou para manter o abastecimento


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Cerca de 60% da população brasileira está em isolamento, mas há setores que precisam continuar operando. Além de mercados e farmácias, o mercado de transporte e logística também se mantém rodando. Para garantir o abastecimento de alimentos e produtos mesmo em meio à pandemia do coronavírus, empresas de logística, transportadoras e concessionárias de rodovias estão tomando medidas para aumentar a segurança para caminhoneiros.

“É um setor muito sensível, pois uma parcela muito significativa do transporte acontece nas rodovias”, diz Sérgio Garcia, diretor executivo de operações da Arteris, concessionária de rodovias com 3,4 mil quilômetros sob operação.

“Diferente de outros setores, o nosso não para”, diz Charlie Conner, presidente da Sotran, plataforma digital para motoristas que atua principalmente com o agronegócio. Segundo ele, a pandemia do coronavírus chegou justamente no meio da colheita de safra, que neste ano bateu recordes de produção.

O Brasil registrou uma queda de 26% no volume de cargas transportadas por caminhões nos dias 23 e 24 em relação ao movimento normal antes das medidas contra o coronavírus, de acordo com pesquisa realizada pela associação de empresas de transporte NTC&Logística.

Obstáculos nas estradas

No início da quarentena, embora o transporte tenha sido declarado serviço essencial, inicialmente os restaurantes à beira de estrada foram fechados. Além da alimentação, esses lugares providenciam banheiros e lugares para banho e descanso, o que tornou a vida dos caminhoneiros mais complicada. Mecânicas e borracharias também haviam sido fechadas.

Segundo Conner, o ecossistema de logística reagiu rapidamente e alguns desses lugares foram reabertos. Os salões dos restaurantes continuam fechados, mas é possível pedir refeições para viagem. 

“No início da quarentena ainda havia descoordenação e até desconhecimento entre autoridades, empresários e motoristas. Hoje, o trabalho é mais coordenado para dar suporte aos motoristas”, diz Garcia, da Arteris.

A Arteris transformou seus postos de pesagem – fechados por causa da limitação de contato entre as pessoas – em locais para banho, avaliações clínicas e estacionamento. A empresa alugou chuveiros e banheiros químicos e deslocou algumas ambulâncias para esses espaços para medir a temperatura dos motoristas e dar instruções de saúde.

A empresa montou uma plataforma em que indica quais postos, restaurantes e mecânicas estão abertas nas estradas que administra. 

Digitalização

O setor de transporte voltado ao agronegócio tem cerca de 500 mil motoristas e movimenta 40 bilhões de reais. Normalmente, é um setor fragmentado, familiar e pouco digitalizado. Para receber uma carga, o caminhoneiro precisa ir para os parceiros, esperar, conversar e negociar com os parceiros. “É uma posição com muito contato e muito vulnerável, com responsabilidade enorme de abastecer o país”, diz Conner.

Para diminuir o contato dos motoristas com outros, o aplicativo permite negociar a carga e receber o pagamento digitalmente. Nos últimos 30 dias, a Sotran percebeu um aumento de 40% no uso do app. 

A Sotran tem 200 mil motoristas cadastrados e faz até 2 mil viagens todos os dias – esse ano, deve chegar a 500 mil viagens. De 2016 até agora, a empresa passou de três estados de atuação para 14 e de 500 milhões de reais de faturamento para 1,5 bilhão de reais.

Mudança na malha

A Ontime Log, especializada no comércio eletrônico e com clientes como Via Varejo e Magazine Luiza, precisou adaptar sua malha logística. Com 95% do varejo físico fechado, as lojas online podem viver uma explosão nas vendas.

No entanto, para a startup, o movimento caiu cerca de 15%. De acordo com Carlos Figueiredo, diretor-presidente da OnTime Log, consumidores diminuíram as compras de moda e de bens duráveis, como móveis e eletrodomésticos.

“Mas novos consumidores vão experimentar o comércio eletrônico durante o período de isolamento, acreditamos que isso irá aumentar a representatividade das vendas online, que hoje são de apenas 5% do total.

Grande parte das compras também é enviada, normalmente, por meio aéreo, no porão dos aviões de passageiros. Com cortes de até 92% nos voos domésticos, a disponibilidade desse espaço despencou e o preço do frete aéreo cresceu até 10 vezes. A Ontime transferiu a maior parte de sua malha aérea para as rodovias. Por isso, aumentou o prazo médio de entrega em mais três dias.

Preocupação com a saúde

A Repom, empresa de gestão de fretes, busca trazer mais informações sobre saúde aos motoristas. A companhia tem cerca de 15 centros chamados Clube da Estrada, onde normalmente os motoristas têm acesso a alimentação, wifi, banheiros e até cabeleireiros e médicos.

Com a quarentena, esses centros foram fechados. Para substituir esses locais, a companhia está oferecendo 3 mil consultas gratuitas de telemedicina para orientar sobre sintomas da covid-19.

A Arteris distribuiu cerca de 5 mil kits de higiene para os motoristas, além de ter instalado dispensers de álcool em gel nas cabines de pedágios. Para diminuir ainda mais o contato nos pedágios, firmou uma parceria com empresas de pagamento automático para distribuir tags gratuitamente, sem pagamento de mensalidade.

Já uma medida da Ontime foi instalar pias em todas as áreas operacionais da empresa. A cada duas horas, um alarme toca e todos os colaboradores devem se levantar para lavar as mãos. 80% dos funcionários estão em home office, mas quem continua trabalhando nos escritórios deve higienizar todo o ambiente antes da chegada da próxima equipe.

Fonte: Revista Exame

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