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Rondônia, quinta, 28 de março de 2024.

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Um exemplo de como a cultura machista faz apologia da violência contra mulher e, pior, ficamos indiferentes


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RETICÊNCIAS POLÍTICAS  –  Por Itamar Ferreira*

Dia Internacional da Mulher, no carro, sintonizo uma estação de Rádio qualquer, na qual o locutor fazia várias referências elogiosas ao Dia da Mulher e eis que chegou o momento musical do programa, quando começou a tocar uma das músicas sertaneja de maior sucesso no momento, a qual é  uma verdadeira agressão às mulheres, veja a letra:

“No início foi assim, Terminou ‘tá terminado, Cada um pro seu lado, Não precisa ligar mais.

Eu segui minha vida, Até ela começar seguir a dela, E do meio pro final, Eu só ia pra onde ela ‘tava, Cada beijo no rosto que outra boca dava Eu morria de raiva E ela ‘tava mais linda.

Cada vez que eu olhava O ciúme não ‘tava batendo, ‘Tava dando porrada E eu implorei pra voltar E ela me matou na unha Disse que eu ‘tava solteiro.

Eu Implorei pra voltar, Sou preso na sua vida, Vai ter que me aceitar de volta, Ah, ah, ah, ah, ah, ah…”

Inacreditável, pois toda letra desta música é uma apologia ao machismo e à violência contra mulher, com expressões como “eu só ia pra onde ela estava”, cada beijo no rosto que ela recebia eu morria de raiva”, “o ciúme não ‘tava’ batendo, ‘tava’ dando porrada”, “sou preso na sua vida” e o cúmulo do absurdo “vai ter que me aceitar de volta”.

Mulher, se o homem que está ao seu lado pensa e fala isso, fique bem longe dele, pois ele não te ama, ele se considera.

A cultura machista é tão insidiosa e perniciosa que a gente houve esse tipo de música, as vezes cantarolando, e não percebe que estamos reproduzindo a cultura da violência, considerando tudo isso normal. Repassamos essa cultura às novas gerações e a violência contra a mulher, incluindo o hediondo feminicídio, se repete diariamente.

Isso nos choca, mas ficamos apenas numa “indignação passiva”, no máximo um post nas redes sociais, mas não combatemos a cultura machista patriarcal onipresente e, mais grave ainda, reproduzimos e legitimamos, como ao curtir uma música horrenda dessas, ao contarmos uma piada e ao dar um exemplo machista aos filhos.

Enfim, é muito bom comemorarmos do Dia Internacional da Mulher, mas o mais importante é que os dia 9, 10, 11… e o ano todo seja Dia da Mulher. Nesta data desejo felicitações e flores a todas as mulheres, mas também um engajamento maior no combate ao machismo, começando por não educarmos filhos machistas!

Ps: que tal fazer uma campanha contra essa música, e outras semelhantes, enviando mensagens de repúdio aos perfis dos cantores nas redes sociais, fazendo protestos nos shows e boicotando as Rádios que reproduzem tais coisas?

* Itamar Ferreira é dirigente sindical e advogado.

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