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Artigo : O carnaval da Pobres do Caiari em 1989

Data : 18/1/2009


Manoel Mendonça – Manelão
 
O carnaval da Pobres do Caiari em 1989
 
 
Este ano os integrantes e simpatizantes da escola de samba Pobres do Caiari, comemoram 20 anos de um título, que entrou para a história da escola de samba. Foi o desfile em comemoração aos 25 anos da escola em 1989.
Á época, o presidente era o Manoel Costa Mendonça – Manelão, que juntamente com parceiros como o então deputado federal Chagas Neto e o sócio majoritário da Transportadora Rápido Roraima Sami mais sua equipe de colaboradores, colocou na avenida o enredo, "Mundo da Criança" um dos mais ricos já apresentados por uma escola de samba de porto Velho, pesquisado pelo carnavalesco e compositor Aluízio Bentes e com o samba de autoria dó Silvio Santos, Bentes, Baba e Toni. Os figurinos foram criados pelo Bentes, Bosco do Caudinho e Marco Teixeira. A escola vinha da frustração de não ter desfilado no carnaval de 1988 porque as fantasias haviam pegado fogo no Rio de Janeiro.
Mesmo assim, influenciado pelo deputado Chagas Neto, Manelão não hesitou em mandar seus carnavalescos ao Rio, fecharem contrato com a mesma fábrica, para confeccionar as fantasias da escola para os desfiles de 1989. "Foi uma verdadeira loucura essa minha decisão". Mesmo sem contar com o dinheiro acertado pelos carnavalescos com os proprietários da fábrica de carnaval, Manelão autorizou o negócio. "Eu tinha apenas a palavra do Lourival gerente do Itaú em Porto Velho que disse que garantia até 250 milhões de cruzeiros para mim e a palavra do Chagas Neto". Além disso, Manelão conta que ainda sofreu com o boicote da professora Marize Castiel porque não concordou em solicitar a prisão de um parente dela que havia dado desfalque na escola. "Ela chegou a fazer a cabeça do meu diretor de carnaval contra minha pessoa". No Rio de Janeiro, Manelão teve que apelar para a violência, enquadrando um argentino sócio da fábrica de carnaval com uma pistola 7.65, porque ele queria vender as fantasias da Caiari para o filho do presidente José Sarney o Zequinha. "Eu faço você ir a pé daqui até a argentina e ainda vou chutando na sua bunda".
Depois de tantos problemas, Manelão ainda conseguiu com um diretor da Rede Amazônica de televisão, que mandasse a direção da TV Rondônia, colocar em edição extraordinária, uma matéria, na qual o presidente da Diplomatas dizia que sua escola não tinha condições de ganhar da Pobres do Caiari.
Para não deixar a Banda do Vai Quem Quer fora da entrevista, Manelão diz que a Banda 2009 está pronta, esperando apenas o dia 21 de fevereiro chegar e que as camisetas estão a venda nas lojas Capri.
 
ENTREVISTA
 
Zk – Conta pra gente como foi produzido o desfile da escola de samba Pobres do Caiari na festa dos seus 25 anos de fundação
Manelão – Foi muita dedicação, um grupo coeso. Tinham algumas rugas internas, mas, todo mundo tinha um objetivo maior que era ganhar o carnaval, eu batia na tecla todo dia: Só se faz 25 anos uma vez.
 
Zk – E daí?
Manelão – Daí o nosso carnavalesco na época, Aluízio Bentes criou o enredo e juntamente com o Bosco que gente chamava de Bosco do Claudinho, criou os figurinos, e então eu os mandei para a fábrica de carnaval que fica no bairro Santo Cristo no Rio de Janeiro e acertaram preço para as fantasias da escola ser confeccionadas.
 
Zk – Você lembra em quanto ficou o orçamento?
Manelão – Na época ficou acertado que pagaríamos 89 Milhões de Cruzeiros. Era dinheiro que eu não sabia nem de onde vinha. Na época o Chagas Neto era deputado federal. Vamos abrir um parêntese para dizer...
 
Zk – Dizer o que?
Manelão – Que na época o divisor político aqui não era o futebol, era o carnaval, era resquício das facções Cutubas e Pele Curta. Isso quer dizer que a escola de samba Pobres do Caiari tinha algum poder já que o Chagas Neto que era uma espécie de presidente de honra da escola era deputado federal.
 
Zk – Isso facilitou as negociações com os empresários cariocas?
Manelão – Depois que nossos carnavalescos fecharam o contrato com a fábrica de carnaval para a confecção de 988 fantasias. Naquele tempo não existia a facilidade do celular para a gente se comunicar e o contrato foi fechado. Fomos a primeira escola de samba do Norte brasileiro a usar Acetato.
 
 
Zk – Isso quer dizer que se o Aluízio Bentes tivesse ligado dizendo o valor cobrado pelos empresários, Bruno e Catucha esse último argentino, você não autorizaria a assinatura do contrato.
Manelão – É isso mesmo, mas como não foi possível, tivemos que assumir a dívida. Quando recebemos a notícia de que as fantasias estavam prontas, nos deslocamos para o Rio de Janeiro onde contamos com a assessoria do nosso saudoso amigo Murilo Collares. Quero lembrar que a escola de samba Pobres do Caiari só voltou a fazer um carnaval tão bonito, depois de quase dez anos no mandato do Aparício Carvalho.
 
Zk – Como foi a negociação com os donos da fábrica de carnaval?
Manelão – O gerente do Banco Itaú em Porto Velho o Lourival era muito amigo meu, a gente vivia fazendo farra, além disso, a gente tinha uma condição financeira razoável e eu acertei com o Lourival ainda em Porto Velho uma "armação". Para na hora que precisasse ele entraria no circuito dizendo que éramos ótimos clientes do Itaú. Isso porque o Chagas Neto tinha me autorizado a assumir as despesas dizendo: "Depois a gente da um jeito de pagar".
 
Zk – Nessas alturas a escola rival a Diplomatas do Samba como estava?
Manelão – Não falei que o divisor político era o carnaval naquela época! Quem bancava a Diplomatas era o Aires do Amaral o homem forte do governo Jerônimo Santa e a gente batendo lata do outro lado, mas, eu não me intimidei com isso não fui pra cima. O Chagas Neto dizia Manelão, tu és doido, quando o cabra não faz, tu vais lá e faz! E eu fiz. Foi um negócio estranho, porque eu não tinha dinheiro e mesmo assim, tocava o barco. Todo mundo pensando que a gente estava nadando no dinheiro e eu só assinando promissória, dando cheque e o diabo. Saímos daqui eu e o Chagas Neto só que ele ficou em Brasília.
 
Zk – Por que você teve que ir ao Rio?
Manelão – Porque o Catucha estava nos pressionando para ir buscar as fantasias, porque o filho do Sarney o Zequinha foi lá à fábrica, viu nossas fantasias prontas e achou muito bonita e queriam levara para uma escola de samba do Maranhão, os carnavalescos dele já tinham ido lá ver as fantasias, o negócio tava armado para eles ficarem com o trabalho dos nossos carnavalescos.
 
Zk – E o que você fez?
Manelão – Quando cheguei lá e tomei conhecimento dessa mutreta através do Murilo, disse pro argentino Catucha: Se vocês pelo menos copiarem uma fantasia dessa aqui, eu quebro vocês todinho, até porque foi o meu carnavalesco quem criou.
 
Zk – Vamos voltar um pouquinho. Você estava dizendo que tinha um prazo para pagar as fantasias. Esse prazo foi cumprido?
Manelão – Acontece que o avião deu o prego e acabei in do num vôo por Manaus. Ceguei sete horas no Rio e oito horas era o meu prazo para sanar a dívida e trazer as fantasias. Na época eu levei no bolso Cr$ 30 milhões de cruzeiros, mais dois talões de chegue com 50 folhas cada um, uma carta do gerente do Banco Itaú dizendo que eu era cliente especial, essa carta ficou na manga. Por volta das nove horas cheguei à fábrica de carnaval, fui dar uma olhada no ambiente dei de cara com uns cachorros mais parecidos com leão e um bocado de gente. O Bruno e o Catucha chegaram conversaram comigo e foram atender uns velinhos de cabeça branca que estavam lá. Esse Catucha "subiu", em cima desses e caras com gosto de gás. Perguntei do Murilo quem eram aqueles senhores e o Murilo me disse que eram integrantes da Velha Guarda da Mangueira.  Daqui a pouco chegou o presidente da União da Ilha do Governador e foi recebido da mesma maneira. O argentino não deu refresco. Vendo aquilo eu dizia: Murilo pelo amor de Deus, esses homens vão acabar comigo, se eles fazem isso com essas sumidades do samba carioca o que não vão fazer com o cabra que vem lá do norte. Na hora que fui embarcar aqui em Porto Velho vi que minha pistola 7.65 a grande de 16 tiros estava dentro da minha bolsa. Eu to lá todo posudo como se estivesse com dinheiro, e eles me tratando muito bem a cafezinho, água mineral. Na realidade eu tinha 30 milhões de cruzeiros para um dívida de 89 milhões de cruzeiros. Nossas fantasias sendo elogiada pelos carnavalesco do Rio de Janeiro. Eles pegaram a criação do Bosco, Marco Teixeira e do Bentes e colocaram nos mostruários da fábrica, tão bonitas eram nossas fantasias.
 
Zk – Quer dizer que o negócio era de primeira?
Manelão – Claro! O Sami dono da transportadora Rápido Roraima que era diretor da nossa escola, colocou a disposição três caminhões baú dos grandes para embarcar as fantasias e essas carretas já estavam na frente da fábrica do Santo Cristo. Bom, por volta das onze horas da manhã começamos a conversar, o Bruno estava do meu lado. Antes disso eu via o Catucha abrir uma gaveta e mostrar um revolver 38. O argentino filho da puta jogava pesado. Naquele época eu era mau elemento mesmo, não tinha medo de porra nenhuma. A comecei a explicar que não estava com o dinheiro todo, mas, apenas uma parte. Aí o argentino começou a gritar, dando uma de macho pra cima de mim o homem ficou histérico. Dizendo que o Zequinha Sarney estava esperando no hotel com todo o dinheiro para pagar as fantasias e que não iria entregar pra mim.
Zk – E o que aconteceu?
Manelão – Eu tentando ponderar e o cara me esculhambando, foi então que uma luz acendeu dentro de mim. Rapaz, um argentino desse sai lá da casa do diabo ganhar dinheiro aqui, gritar com brasileiro, isso não está certo.
 
Zk – E o pau quebrou?
Manelão – Abri minha bolsa, peguei a pistola dei um murro em cima da mesa que afundou, o Bruno correu e eu disse: Eu lhe mato, não mexa no que é meu, isso é criação minha é idéia dos meus carnavalescos e tu não vai vender pra ninguém. Olha meu amigo, eu to no Rio de Janeiro, mas, sou homem aqui, na argentina em qualquer lugar, se você duvidar dentro de duas horas, essa tua fábrica não tem um tijolo inteiro. Aí ele ficou nervoso e com medo. Nessas alturas eu olhava pro Murilo e ele estava amarelo, ainda peguei o revolver do argentino da gaveta e tirei as balas. Veio o Bruno, veio a mulher dele que era uma "maneca" que desfilava, uma mulher muito bonita. "Que é isso, o senhor ta nervoso", e eu não seu marido ta pensando o que? Eu boto ele daqui pra Argentina a pé e ainda vou chutando na bunda dele ta. Foi então que ele disse, vamos conversar "Don Manelon".
 
Zk – Com os ânimos serenados o que aconteceu?
Manelão – Aí eu perguntei, qual é o Banco que vocês trabalham e fomos para uma agencia do Itaú na Gamboa. E o argentino, "hoste es mui nervoso ombre" eu respondi pra ele. Bota um gatinho com três dias de nascido na frente de um cachorro pastor alemão pra te ver o que acontece.
 
Zk – E no Banco?
Manelão – Como eu disse, no Banco eu já tinha uma armação via Lourival.  O Banco Itaú tinha lançado umas canetinhas muito bonitas e o Lourival tinha me dado uma caixa com bem umas quinhentas. Entramos no banco após o meio dia, me apresentei a gerente uma mulher, dei um cartão meu, abri minha bolsa tirei uma canetas daquelas e presenteei a gerente do banco. Naquele tempo as transações tinham que ser via Doc. Quando ela pegou a caneta, olhou pra mim e disse; "Não acredito, eu gerente do banco não tenho uma caneta dessa e o senhor tem"! Aí expliquei a situação, dizendo que tinha um dinheiro para ser liberado pela agencia de Porto Velho e que se ela quisesse podia telefonar para o gerente Lourival. Isso tudo sem mostrar a carta que me garantia um crédito de 250 milhões de cruzeiros. Ligeirinho Lourival entrou na parada e o resultado foi que eu já dono de toda situação, mesmo estando com 35 milhões para passar para a fábrica de carnaval, autorizei a transferência para a conta deles de apenas 10 milhões e assinei mais cinco cheques para 30, 60 e 90 dias e a gerente do banco para o Catucha: o senhor pode receber, esse homem manda no banco. O certo foi que o argentino recebeu e ainda ficou satisfeito com a transação, não sabia ele que se não criasse caso teria recebido em dinheiro vivo 35 milhões de cruzeiros e não um cheque de 10 milhões.
 
Zk – Daí foi festa?
Manelão – Depois disse ele disse: Vamos embarcar as fantasias. Depois me convidou para um almoço que ele já havia encomendado via telefone num restaurante.
 
Zk – Almoço especial?
Manelão – É, ele tinha mandado preparar um prato típico argentino, parecido com a paeja espanhola. Acontece que quando a comida chegou a mesa eu fiquei olhando, todo mundo se serviu e eu ali olhando. "Não vai comer Don Manelon"? Vou, to só dando um tempo. Depois que ele provou o primeiro bocado, foi que eu me servi, mas, ainda cheirei a comida. Foi então que o Murilo viu que eu estava com medo de ser envenenado.
 
Zk – E o embarque das fantasias?
Manelão – Nessas alturas o Davi Correia considera o melhor compositor de samba enredo da época e o Quinzinho o grande interprete da Império Serrano estavam feito doido me procurando, aí o Bruno disse pro argentino, essa cara deve ser poderoso mesmo pra esses sambistas de renome nacional estar assim, correndo atrás dele. Depois do almoço fomos embarcar as três carretas de fantasia que tinham que parar na transportadora em São Paulo para receber lastro.
 
Zk – E você embarcou para Porto Velho?
Manelão – A noite peguei o Davi Correia com o Murilo e fomos para a casa de espetáculo Plataforma, lá o mestre bateria da Portela colocou na nossa mesa um bocado de mulata. Pedi logo um litro de uísque importado que custava uma grana. O certo foi que cheguei ao hotel Meridien de madrugada, bêbado e com um bocado de mulata, chamei um cabeleireiro francês para fazer meu cabelo e a barba, aí foi que a turma pensou. "O cara tem dinheiro mesmo".
 
Zk – E a chegada de volta em Porto Velho?
Manelão – Perdi o avião em São Paulo e o vôo que consegui foi via Rio Branco Acre e quando cheguei no acre o vôo teve que pernoitar e então as amizades acreanas me descobriram e então caí na farra com o Diógenes e outros amigos acreanos, quase perco de novo.
 
Zk – E a escola foi campeã?
Manelão – Na saída do Rio de Janeiro ofereci aos motoristas das carretas 100 cruzeiros a mais se eles estivessem aqui na segunda feira.
 
Zk – Eles chegaram?
Manelão – Eu cheguei aqui na madrugada de domingo e quando foi as nove horas da manhã as carretas estavam buzinando em frente a minha casa na Joaquim Nabuco.
 
Zk – E a escola?
Manelão – Vale salientar que a dona Marize tentou por vários meios boicotar o desfile, porque eu não mandei prender um cidadão que havia dado um desfalque na escola e ela queria que eu mandasse prende-lo e eu não atendi o pedido dela. Ela fez a cabeça do meu diretor de carnaval Hiran Brito Mendes que chegou a me questionar sobre se a escola tinha condições de vencer. Resultado, briguei de porrada com o Hiran, depois de alguns minutos nos abraçamos chorando e eu pedi para ele acreditar no nosso trabalho que iríamos ganhar.
 
Zk – E a história da declaração da Diplomatas admitindo perder o carnaval?
Manelão – Eu era muito amigo do Jorge Daou filho do Filipe Daou dono da Rede Amazônica. Soube através de um repórter da TV Rondônia que o presidente da Diplomatas Edson Caula tinha dado uma entrevista dizendo que a escola dele iria apenas participar dos desfiles em respeito aos seus brincantes e simpatizantes. Ele dizia que não tinha como ganhar da Pobres do Caiari. Como a direção da TV Rondônia não colocou a matéria no ar consegui localizar o Jorge em Manaus e pedi para ele interferir para a matéria fosse pro ar. Não deu outra, de meia em meia hora saia em edição extraordinária: Presidente da escola de samba Diplomatas diz que vai perder para a Pobres do Caiari.
 
Zk – Síntese?
Manelão – Quando a escola foi proclamada campeã na apuração que aconteceu na Biblioteca Francisco Meirelles, dei uma entrevista pela Rádio Caiari e ofereci a vitória a nossa grande carnavalescas Marize Castiel.
 
Zk – E banda 2009?
Manelão – A Banda está andando, inclusive, no próximo carnaval quem vai comandá-la é você, a Ana Castro e minhas filhas Cecília e Emuela.
 

* Sílvio Santos : Zé Katraca

Autor : ZEKATRACA   Fonte : ZEKATRACA
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